Algumas notas sobre produtividade

É certo que ouvimos falar de Produtividade, mas sabemos o que significa ou a que se refere?

Escrito com ❤️ a

12 de Outubro, 2022

Chegou aquela altura do ano em que a comunicação social e os comentadores gastam horas e horas… mais certo de que a chegada do Outono (que este ano tarda em se assumir), é a entrega do Orçamento de Estado, que tem um prazo determinado na Lei. Ainda me recordo, na década de 90, do Ministro das Finanças carregar, literalmente, dezenas de dossiers. Depois, foi entregue numa disquete, a seguir num CD-Room e por último, numa PEN. Não sei como foi entregue este documento na Assembleia da República, mas mantendo a tendência de evolução tecnologia, terá sido descarregado da cloud?

Já lhe consumi bastante tempo nesta introdução e ainda não disse a que propósito vem este tema do Orçamento de Estado. É que um dos assuntos recorrentemente debatidos a reboque do Orçamento de Estado é a questão da produtividade. É consensual – e os números assim o confirmam – que Portugal tem um problema de produtividade, situando-se em vigésimo na União Europeia.

É certo que ouvimos falar de Produtividade, mas sabemos o que significa ou a que se refere? Numa rápida definição, Produtividade é o resultado daquilo que é produtivo, ou seja, do que se produz, do que é rentável. É a relação entre os meios, recursos utilizados e a produção final. É o resultado da capacidade de produzir, de gerar um produto, fruto do trabalho, associado à técnica e ao capital empregado.

Portanto, Produtividade não tem que ver com o quanto se trabalha, mas com o valor do resultado do trabalho. Um exemplo meio caricato: um agricultor trabalha 20 horas para produzir um kilo de batatas que vende por dois euros; já um lapidador de diamantes que trabalhe o mesmo tempo vê o resultado do seu trabalho a render no mínimo 1500 euros por quilate. (Neste exemplo não estou a contar com custos de trabalho ou salários, somente o resultado do tempo trabalhado). O problema em Portugal é que produzimos muitas batatas e poucos diamantes! E para piorar, é que o esforço para produzir as batatas é enorme por falta de mão de obra qualificada e de tecnologia que maximize a produção, fazendo com que os custos sejam demasiado altos e o lucro baixo.

É um drama continuar a ver empresas com parcos recursos tecnológicos – algumas nem orçamento anual têm para investir em informática e tecnologias similares – explorando ao máximo os equipamentos e softwares instalados até que deixem de funcionar. Como é um drama a pouca formação de muitos empresários em gestão, finanças, recursos humanos, digitalização, etc. É gente de muito valor – ser empresário em Portugal é difícil – mas, porque lhes faltam estas ferramentas ou skills, estão em desvantagem em relação aos seus concorrentes mais preparados.

E um novo ano está a chegar. A incerteza económica geral está a gerar ansiedade sobre muitos temas como a inflação, energia, juros, recessão, etc, mas também sobre a produtividade. Que estratégias adotar para Portugal deixar de ser um país de fraca produtividade, baixos salários e poucas habilitações?

  1. Formação. A aposta na formação tem de ser um desígnio pessoal e não uma obrigação laboral. Isto é, não serve de desculpa dizer que a empresa / organização não realiza / contrata ações de formação. Há tanta oferta e alguma dela gratuita. O pior que pode acontecer é ficarmos obsoletos como as máquinas, agarrados ao que sabíamos no passado, mas que hoje não é suficiente. Por exemplo, há poucos dias encontrei dezenas de oportunidades gratuitas de formação em várias áreas. No meu caso, decidi inscrevi-me em Gestão de Equipas (embora faça muitas vezes este trabalho, tenho a certeza que aprenderei alguma coisa nova).
  2. Tecnologia. A tecnologia não é um custo! É o principal investimento (a par das pessoas) que uma empresa / organização tem de realizar continuamente. Continuamente, não é comprar um computador ou desenvolver um software e esperar que dure eternamente. Todas as empresas e organizações deveriam ter um orçamento anual para gastar em tecnologia por forma a automatizar tarefas de baixo valor acrescentado, libertar pessoas para assuntos mais importantes e de maior atenção, facilitar e reduzir os custos de gestão do dia-a-dia, criar novas oportunidades de negócio, etc.
  3. Comunicação e Partilha de Informação. Empresas e organizações têm de aprender a comunicar melhor internamente. Os vários stakeholders têm de ser capazes de se entender quanto aos objetivos do trabalho e como colaborarem. A informação tem de estar disponível em repositórios partilhados e acessíveis a todos. A horas que se gastam na busca de informação que está guardada exclusivamente no computador da pessoa X são um desperdício brutal.
  4. Aposta na autonomia e em bons gestores intermédios. Uma empresa / organização que está permanentemente à espera de autorização ou decisão dos gestores / administradores vive em permanente pára-arranca em hora de ponta na 2ª circular, em Lisboa. Nem vale a pena construírem-se mais faixas de rodagem, pois se os condutores não avançarem com confiança, o trânsito permanecerá sempre congestionado. O que quero demonstrar com esta imagem é que as equipas operacionais dentro da organização têm de se sentir seguras para avançarem e que os gestores intermédios devem ser como os copilotos de rali – não conduzem, mas dão as indicações certas.
  5. E por fim, compreender que os processos são tão importantes como a criatividade e a inovação. Desenhar bons processos é fundamental: quando assim é poupa-se tempo e energia pois não é necessário reinventar a roda permanentemente. Mas os processos não se podem transformar em dogmas. É aqui que entra a criatividade e inovação, pois há sempre lugar para melhorar, aperfeiçoar ou aprender a fazer de um modo diferente.
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