Às vezes questiono-me se não deveria ter escolhido outra profissão.
Uma profissão em que fosse simples recrutar clientes. Em que bastasse imprimir uns folhetos simples e deixa-los nas caixas do correio, como este que recebi hoje. Afinal, há sempre alguém que precisa de um eletricista, de um canalizador, de um mecânico ou de vender um carro usado!
Uma profissão em que não fosse necessário explicar o que faço. Assim, poderia responder com facilidade: «Arranjo torneiras», «Reparo portas» ou «Negoceio carros». Simples, até o meu filho mais novo é capaz de perceber.
Uma profissão em que o cliente visse de imediato a vantagem do serviço. Na falta de luz ou de água, ninguém coloca em causa se esse assunto é prioritário ou indispensável; e na urgência ou necessidade o cliente está disposto a pagar o que for pedido a quem resolva o problema com competência, rapidez e honestidade.
Uma profissão em que nem sequer fosse necessário criar propostas comerciais elaboradas, com arte e criatividade para impressionar o cliente. Era bom que bastasse poder dar o preço do trabalho ao cliente logo ali, naquele instante, sem ter de refletir e avaliar as múltiplas hipóteses de soluções para aquele pedido ou discutir cláusulas contratuais ou milestones do projeto. «Reparar o fogão? 50€.» Vê? Simples, não é?
Uma profissão em que não fosse necessário agradar de forma diferente a cada cliente. Um cozinheiro não elabora 10 versões do mesmo prato consoante o gosto dos clientes que tem no restaurante; nem enquanto prepara o prato pensa se vai agradar muito o cliente X ou Y. É igual para todos.
Uma profissão em que o resultado fosse imediato. Estava avariado, mas agora funciona. Era preciso construir, agora já está construído!
Uma profissão em que o cliente assumisse a sua ignorância. Tipo contabilista, em que se deixam lá os papeis e a declaração de impostos aparece preenchida. Quantos discutem ou questionam o contabilista (excluindo aqueles que porventura foram inspecionados ou receberam uma coima das AT)? A maior parte confia em pleno que as coisas estão certas.
Uma profissão perfeita. Tal como dizem todas estas pessoas que referi, tipo designer, que está sentado confortavelmente junto ao seu computador a fazer uns bonecos ou coisa parecida. Isso sim é vida!