Vamos começar pelo básico. Relembremos que comunicar implica existir um emissor que transmite uma mensagem através de um meio, utilizando um determinado código e um receptor que recebe essa mensagem, que a descodifica e a compreende. Vejamos que este esquema é um pouco mais complexo do que aquele que aprendemos nos primórdios da escola de que para existir comunicação é necessário apenas um emissor, uma mensagem e um receptor.
O propósito de recordar aqui os princípios básicos da comunicação prende-se com facto de parecer que inconscientemente nos esquecemos de aplicá-los: de facto, para existir comunicação é necessário que uma das partes entenda a mensagem.
O que tenho observado com os anos de prática é que num projeto de design não é fácil para todas as partes envolvidas se entenderem; então quando temos equipas pluridisciplinares o desafio é ainda maior. Quem trabalha num ambiente que cruza designers, developers, gestores, marketeers sabe bem o quão difícil é fazer-se entender. Já participei tantas vezes em reuniões em que várias pessoas falavam do mesmo, mas que por utilizarem terminologias diferentes foram necessários longos minutos até todos perceberem que falavam do mesmo!
Chegamos agora ao tema deste artigo. Se trabalha com designers e sente dificuldade em entender e fazer-se entender, então continue a ler. O meu objetivo não é escrever um artigo ao estilo de «Design para totós», mas deixar-lhe um conjunto de conselhos práticos que o ajudarão a comunicar melhor e desta forma obter os resultados esperados. Eu sei bem o que é estar dos dois lados da mesa – de um lado o cliente em luta para fazer entender os seus pontos de vista, do outro, o designer a tentar explicar o seu racional criativo.
O processo de design de um software, website, cartaz ou roupa para gatos não envolve nenhum tipo de arte mágica ou inspiração sobrenatural; é sim, um processo até muito racional em que se procura a resposta a um determinado problema, seguindo um dos princípios mais conhecidos da teoria do design, em que a forma segue a função, isto é, a forma é resultado da funcionalidade da solução para o problema e não capricho ou gosto pessoal. E sim, bom design dá gosto de ver, de sentir e de experimentar.
A comunicação é a chave para se alcançarem os melhores resultados para qualquer projeto de design. Só quando são fornecidas as informações corretas no momento certo é que se alcançam os resultados esperados.
Comece por partilhar o seu problema ou o resultado que deseja obter.
Há duas formas de começar esta conversa: partilhando o problema ou a visão. Na primeira abordagem sabe o que o inquieta e procura que o designer lhe apresente uma solução. Quanto mais detalhado foi na apresentação do seu problema, melhor será a solução proposta. A segunda abordagem, sabe o que deseja alcançar, mas não sabe como fazê-lo. Note, que em nenhuma destas abordagens se pede ao cliente que dê soluções — essas pertencem ao designer. Não quer isso dizer que o designer irá acertar sempre à primeira, mas se a via do diálogo se mantiver aberta, é provável que chegue à solução expectável. O valor do designer é maximizado quando trabalha para um determinado objetivo ou solução. Em vez de o ver como um operário executor, veja-o como um consultor especializado.
Seja franco.
Quando se trata de orçamento disponível, prazo de execução e expectativas, seja claro na partilha dessas informações. Se não tem o dinheiro disponível para investir em materiais nobres, diga-o. É contraproducente pedir ao designer para criar um produto com os mais nobres materiais e depois não se avançar por falta de orçamento. O tempo e energia gastos nessa proposta seriam mais bem empregues em trabalhar num produto dentro do orçamento disponível. E neste ponto entramos na questão das expectativas. Não é razoável esperar fazer muito e bem sem as informações certas, orçamento ajustado e tempo razoável.
Saiba criticar e apresentar os pontos de discórdia.
Todos erramos. E desenhar alguma é um processo de tentativa e erro. Posto isto, para dar um feedback construtivo para obter os resultados esperados deixe o gosto pessoal de lado, de preferência em casa numa arrecadação trancada a sete chaves. Discutir algo tão subjetivo como o gosto é tempo gasto inutilmente. Por isso, evite a todo o custo avaliações como «gosto muito» ou «não gosto nada». Quando entender que o resultado ou a solução proposta não respondem ao problema que colocou ou ao objetivo que deseja alcançar, explique ao designer os motivos dessa conclusão. Diga «a nossa marca não utiliza essa paleta de cores»; «o modelo dessa foto é demasiado jovem para o nosso público»; «o utilizador poderá ter dificuldade em encontrar esse botão». Deixo-lhe ainda um conjunto de perguntas que poderá utilizar para ajudar quando recebe uma proposta de design:
- Resolve o problema? E como resolve o meu problema? Sim, porque… Não, porque…
- Serve os objetivos ou a mensagem da marca? Sim, porque… Não, porque…
- Esta solução cria mais problema do que resolve? Sim, porque… Não, porque…
Como observa, são perguntas objetivas que levam a respostas objetivas.
Não assuma que o designer tem poderes sobrenaturais.
Lamento desiludir, mas nenhum episódio dos X-Files foi inspirado no caso do designer que lia as mentes dos clientes e dos seus consumidores… Por isso, pare de exigir que o designer adivinhe os seus problemas e o que está à procura. Imagine que está numa carreira de tiro e tem o alvo à sua frente a uns 5 metros. Parece fácil acertar, certo? Agora, imagine tentar acertar no alvo completamente às escuras, depois de ter dado cinco voltas sobre si mesmo. Agora parece mais difícil, certo? Compreenda que ao não providenciar a informação certa ao designer, está a pedir que acerte no alvo às escuras e sem qualquer orientação. Trate o designer como um colega de equipa ou parceiro de negócios. Só assim, será capaz de acertar no alvo.
Confie no designer.
Se não confiar no designer boa parte do tempo será gasto com ele a tentar convencê-lo a tomar uma decisão. O papel deste profissional é entregar a melhor solução para o problema. Para tal utiliza a sua formação, experiência passada, pesquisa de comportamentos e concorrência, casos de estudo, por forma a responder ao desafio. Não tenha receio de aproveitar tudo isto.
O design é um processo que envolve sempre uma dose considerável de empenho criativo e esforço analítico. É verdade que tudo isto se resume no produto final – um cartaz, uma marca ou um website. Não permita que equívocos sobre design ou atitudes erradas tenham o efeito prejudicial no seu projeto. Ao aprender a comunicar com o designer e a confiar nele, aumentará as hipóteses de sucesso.