Empreendedorismo: a inspiradora história de Neemias

Todos somos empreendedores sempre que tomamos a iniciativa de fazer alguma coisa e não ficamos à espera que outros o façam. Pode ser assim em casa, no trabalho, na vida social ou até na igreja.

Escrito com ❤️ a

21 de Abril, 2022

Há palavras sobre as quais somos capazes de determinar, com alguma precisão, quando entraram no léxico coletivo. E uma delas é a palavra empreendedorismo. A partir de 2016, com a realização da primeira edição da Web Summit em Portugal, por toda a parte se começou a pronunciar essa palavra!

Empreendedor é alguém que toma a iniciativa para realizar qualquer coisa, para mudar ideias ou comportamentos, ou resolver um problema, trabalhando ativamente para concretizar os seus planos. Todos somos empreendedores sempre que tomamos a iniciativa de fazer alguma coisa e não ficamos à espera que outros o façam. Pode ser assim em casa, no trabalho, na vida social ou até na igreja.

A história de Neemias é um exemplo de empreendedorismo. Neemias era um alto funcionário da corte de Artaxerxes, imperador da Pérsia, durante o longo período de cativeiro do povo hebreu, na Babilónia. Ao saber que, em Jerusalém, as muralhas continuavam em ruínas, as portas destruídas pelo fogo e que o povo vivia em dificuldade e miséria, sobreveio-lhe uma profunda tristeza e inquietação, que durou vários dias. Chorou amargamente e lamentou-se junto de Deus pois tinha consciência que as ações e pecados do passado eram a causa do que estavam a viver. Ainda assim, observamos a convicção de que aquela situação poderia ser revertida, através do arrependimento do povo, e que, a partir daí, Deus agiria. Esta certeza é a ignição para os acontecimentos que se seguem!

Neemias mostra-nos uma das características do empreendedor: age a partir de um problema que o afeta ou toma o problema de outros como seu; não se conforma, não fica indiferente, de braços cruzados, à espera que outros tomem a iniciativa. Pelo contrário, ao tomar consciência da causa e da dimensão do problema nasce o desejo de o resolver. Julgo que todos nos podemos rever nisto.

Durante meses, Neemias pensou, obsessivamente, no problema e na forma de o resolver. Provavelmente, recolheu mais informações que o ajudassem na busca de uma solução. Procurou conselhos de homens experientes naquele tipo de obra para elaborar um plano ou fazer cálculos e estimativas para antecipar a quantidade de trabalho a realizar, o número de homens necessários e quanto custaria aquela empreitada. Terá recebido respostas como «Isso é impossível!», «É uma causa perdida!» ou «Deixa-te estar quieto que estás bem confortável. Para quê incomodares-te com isso?», o que terá feito crescer ainda mais a sua angústia. Não creio que esteja a exagerar ao assumir que a tristeza, que o Rei viu no rosto de Neemias, era fruto de todas essas experiências que ele estava a viver: por um lado, o problema dos muros destruídos e do povo em dificuldade; por outro, a enorme empreitada que tinha pela frente; e ainda, a ansiedade de levar esse assunto ao Rei.

No mundo dos negócios é comum falar-se em elevator pitch. Imagine uma viagem de elevador, que dura uns 60 segundos, e ser capaz de apresentar um problema e uma solução, com tanta certeza e preparação, que capta de imediato a atenção do seu interlocutor. É o que vemos acontecer quando o Rei confronta Neemias, ao perguntar-lhe a razão daquela tristeza. Neemias não se acanha, não gagueja, nem foge do assunto; ele sabe que aquele é o seu elevator pitch e, por isso, não perde tempo: apresenta, com ousadia, o problema e como este o afetava, a solução e respetivo plano de resolução. No mundo dos negócios ou das causas sociais, um empreendedor tem de saber contar muito bem a sua história de forma a cativar outros para a sua causa. Neemias fê-lo com mestria: não andou com rodeios e sobretudo não fez promessas excessivas, as quais não seria capaz de cumprir.

O Rei concedeu tempo para escutar Neemias, tendo em conta o seu passado como funcionário exemplar. Provavelmente, se não fosse um homem de confiança, dificilmente o monarca teria aceitado embarcar nesse projeto.

Neemias não delegou nos outros a tarefa que tinha em mãos. Ele poderia ter dito ao Rei que enviasse os engenheiros e os operários do reino para irem a Jerusalém construir os muros. Não! Ele mesmo encarregou-se de levar por diante o trabalho. Ele foi o visionário da ideia, mas também o executor. Há muitas histórias de empreendedores que, não sendo especialistas no assunto do seu problema, estudaram, com afinco, tornando-se especialistas e agendes de transformação. Se desejamos ser estes agentes, não podemos limitar-nos a delegar, temos de ser os primeiros a arregaçar as mangas.

E, por fim, na prova desta tese de que Neemias é um exemplo de empreendedorismo que podemos usar em todas as áreas da vida dos negócios, das causas sociais ou no serviço ministerial, é que foi capaz de mobilizar as pessoas em torno da sua ideia e do seu plano. Mesmo com oposição – e ela sempre existirá! – ou das dificuldades inerentes a um projeto destes, ele foi capaz de liderar, através do seu exemplo, sem nunca fugir dos problemas. Qualquer projeto terá muitos momentos de conflito e de encruzilhada que, aparentemente, ameaçam a sua execução. Neemias soube ir lidando com todos esses conflitos, com sabedoria, sem nunca perder o ânimo e o foco da causa maior.

As muralhas são terminadas, num prazo incrível de 52 dias, e Neemias regressa a casa, tal como havia prometido ao Rei, cheio de uma alegria inexpressável pela satisfação de ver aquele projeto realizado. Engane-se quem pensa que o projeto era somente acerca de umas muralhas de pedra: as muralhas mais importantes que Neemias ajudou a restaurar foram as espirituais. Qualquer projeto de empreendedorismo não é apenas a concretização de uma ideia, é como ela pode transformar pessoas e comunidades, de forma que, muitas vezes, vai além do imaginado. É verdade que um empreendedor sente-se realizado quando vê o seu plano dar certo, mas fica em êxtase quando observa a transformação nas pessoas, empresas e comunidades.

Quer levar estas reflexões consigo?

You've Got M@il: reflexões sobre design, criatividade, carreira e negócios

Se gostou deste artigo, vai querer mergulhar em You’ve Got Mail. Este livro nasceu da vontade de reunir num só lugar as ideias e reflexões que tenho partilhado ao longo dos anos — sobre criatividade, tecnologia, estratégia, carreira e tudo o que acontece quando estas áreas se cruzam.

Mais do que uma compilação de textos, You’ve Got Mail é um convite à leitura com tempo: para sublinhar, repensar caminhos e voltar sempre que precisar de foco ou inspiração.

Outros artigos