Reganhar a paixão perdida pelo projeto

Não serei com certeza o único que já perdeu a paixão pelo trabalho que está a produzir num momento. Sabe do que estou a falar, daquela vontade de pôr as mãos à obra e de enfrentar a folha em branco cheio de energia e motivação e aquele êxtase de ver uma ideia a tornar-se realidade.

Escrito com ❤️ a

26 de Fevereiro, 2018

Não serei com certeza o único que já perdeu a paixão pelo trabalho que está a produzir num momento. Sabe do que estou a falar, daquela vontade de pôr as mãos à obra e de enfrentar a folha em branco cheio de energia e motivação e aquele êxtase de ver uma ideia a tornar-se realidade. 

Mas à medida que o projeto se arrasta, que as interações com o cliente vão tornando-se mais tensas, que somos aliciados com novos projetos – mais interessantes e apelativos – temos cada vez menos vontade de dar continuidade ao trabalho a que estamos comprometidos. Muitas vezes até cumprimos, posso afirmar, os mínimos, isto é, o que desenhamos ou desenvolvemos até está bem-feito, mas falta-lhe vontade, brilho e paixão. Ou outras vezes, percebemos que já perdemos completamente mão ao trabalho graças a todas as mudanças que sofreu e já nem reconhecemos o que é nosso ou de outros, e por isso, já nem nos interessa o resultado – o que desejamos é sair daquele trabalho, e de preferência, inteiros de espírito e razão. 

Creio que muitas pessoas já experienciaram esta situação, independentemente de serem designers, programadores, escritores ou gestores de projeto: ficamos sobrecarregados, esgotados, frustrados e vamos perdendo a capacidade de nos focar no detalhe, de gerarmos novas ideias e de lidar com a crítica. 

Então, quando estamos presos àquele projeto que já não nos satisfaz, como reganhar a paixão e a motivação? Será possível sequer isso acontecer quando já estamos demasiado cansados física, criativa e intelectualmente? E quando as relações já estão demasiado gastas por expectativas goradas e demasiadas sessões de críticas e revisões infinitas?

Alinhar expectativas 

Em muitos projetos perdemos a motivação porque não estamos a alcançar os resultados que desejamos ou expectávamos num determinado período. Se é designer ou programador revesse nisso: quando parece que estamos atolados num ciclo interminável de tentativa e erro e não conseguimos acertar no resultado. Já me aconteceu pensar numa solução simples e andar às voltas para conseguir implementá-la. Sabe quando lê um daqueles comentários no Stack Overflow onde alguém diz que determinado algoritmo funcionou para o seu projeto e você copia e não funciona? E passa horas a tentar perceber por que e não encontra a solução? 

Por isso é importante alinhar as expectativas entre si e a solução que deseja alcançar. A solução pode ser óptima, mas se não consegue realizá-la no prazo e com as ferramentas e o know-how que tem disponível, o melhor será avançar noutra direção. 

Mas se o problema de expectativas é entre si e o cliente, então têm de se sentar e conversarem abertamente. Lembro-me de ler o testemunho de um designer que contava que certa vez alguém o contactou a dizer o quanto admirava o seu trabalho, que queria contratá-lo e, como estava tão confiante que tudo correria bem e o resultado do trabalho seria excelente, decidiu pagar o projeto todo à cabeça. Conta então o designer em causa que pensou que tinha encontrado o cliente perfeito! Mas esse projeto revelou-se um pesadelo, pois as expectativas nunca foram alinhadas, e por isso, o cliente que admirava a obra do designer, sentia a cada proposta que o resultado era menor do que o expectado, chegado mesmo a acusar o designer de se querer aproveitar do dinheiro e entregar-lhe propostas bem mais fracas de que as que havia visto no passado. 

Muitas vezes as expectativas do cliente são muito altas, porque conhecem o nosso trabalho passado, porque alguém nos recomendou como sendo os melhores ou porque, nós próprios fizemos promessas que geraram um certo grau de exigência. Esta tensão pode ser muito prejudicial para a relação e ser a causa para a perda do interesse no projeto. Vejamos os dois lados: o designer pode sentir que está a fazer o melhor e que o cliente está apenas a ser insensato; o cliente pode achar que o designer não está a aplicar o melhor do seu talento; o primeiro sente que está a trabalhar demais para o que está a ser pago; o segundo não quer sentir que pagou por algo que não o satisfaz. 

Assim, quando estiver preso numa situação destas, tem de alinhar as expectativas com o cliente focando-se nos pontos mais importantes do projeto como o objetivo, o público-alvo e a mensagem a transmitir.  

Compreender a grandeza do projeto 

Sejamos honestos, muitas vezes tomamos o projeto como nosso: «a ideia é minha», «fui eu que desenhei», «fui eu que programei», «eu é que sei», «a minha opinião é que conta», etc, são frases conhecidas, não são? 

Quero tornar clara a minha tese: o projeto não é de quem cria ou desenvolve nem de quem contrata ou paga. O projeto é para quem se destina. Por isso, temos de ter em mente que os interesses da marca, da instituição ou da empresa são muito superiores aos interesses do designer ou do próprio cliente. Em momentos de crise, quando ambas as partes já perderam o interesse no trabalho que estão a desenvolver, relembrar que acima dos seus interesses e disputas pessoais estão os interesses da marca ou da instituição, vai permitir compreender a grandeza do projeto em que estão envolvidos, e desse modo, aliar os esforços e reganhar a paixão.  

Para tal é necessária uma boa dose de humildade em todas as partes envolvidas; quando tal não acontece, o projeto sai prejudicado. Infelizmente, assisti ao longo da minha carreira, demasiadas vezes isso a acontecer.  

Acredito seriamente que quando perdemos o interesse no projeto e queremos recuperá-lo, seguir em busca da essência daquele trabalho, perceber o seu propósito maior e respeitar as pessoas a quem se dirige, são os ingredientes básicos para que a nossa paixão se reacenda, e desse modo, novas ideias e soluções irão surgir. 

É verdade que para um projeto bem-sucedido terá de saber gerir os altos e baixos normais de um trabalho criativo e intelectual. Não é uma máquina e por isso será normal em algum momento sentir que está cansado. Mas não desista, continue a trabalhar afincadamente e faça o que for necessário para reacender a chama da paixão. Faça-o por si, pelo seu cliente, mas em especial, pelo projeto que está a construir. 

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