Deu que falar a aprovação da proposta do partido Livre de um estudo e amplo debate sobre a semana de quatro dias de trabalho. Na proposta, o Governo promove o estudo e a construção de um programa piloto que vise analisar e testar novos modelos de organização do trabalho, incluindo a semana de quatro dias em diferentes setores e o uso de modelos híbridos de trabalho presencial e teletrabalho.
Estará a semana de trabalho de 40 horas ultrapassada à medida que os trabalhadores procuram mais flexibilidade, melhor equilíbrio trabalho-vida, ou um trabalho mais significativo? Várias pesquisas descobriram que uma semana de trabalho mais curta poderá ser a chave para reter os melhores talentos.
Um inquérito a pessoas com idades compreendidas entre os 22 e os 35 anos que abandonaram os seus empregos descobriu que 32% teriam ficado se lhes tivesse sido oferecida uma semana de trabalho de quatro dias. O mesmo inquérito concluiu também que 80% de todos os inquiridos apoiam uma semana de trabalho de quatro dias.
Um outro inquérito realizado a trabalhadores americanos descobriu ainda mais apoio para a semana de trabalho de quatro dias. Dos 1.000 inquiridos:
- 95,4% querem uma semana de trabalho de quatro dias;
- 90% acreditam que a semana de trabalho de cinco dias está desatualizada;
- 97% pensam que seriam mais produtivos trabalhando quatro dias por semana;
- 98% acreditam que a sua saúde mental iria melhorar.
E para conseguir uma semana de trabalho de quatro dias, as pessoas disseram estar dispostas a desistir:
- De férias ilimitadas (38%);
- De cuidados de saúde gratuitos e prestados pela empresa (43%);
- De oito horas de trabalho por dia por uma jornada de dez (58%);
- Do seu emprego atual (74%)
Por cá, tenho observado alguns anúncios de empresas nacionais que vão adotando esta nova política, como a Feedzai, Dr. Finanças ou a PHC que oferece 12 sextas-feiras por ano.
Qual o impacto de uma semana de quatro dias de trabalho?
Pesquisando por esta Internet fora, há um conjunto de vantagens e desvantagens consensuais.
Vantagens:
- Melhor produtividade, uso mais eficiente do tempo e satisfação;
- Menor taxa de absentismo e ganhos de saúde física e mental
- Melhor conciliação entre trabalho e vida social e familiar;
- Uma taxa de desemprego menor;
- Benefícios ambientais;
- Menos custos indiretos em infraestruturas e energia;
- Mais inovação de produtividade.
Desvantagens:
- Nem todas os serviços e indústrias podem participar;
- Pode obrigar que alguns serviços se tornem mais caros pela escassez de mão de obra e o pagamento de horas extraordinárias;
- Muitos trabalhadores continuação a trabalhar as mesmas horas e dias da semana pois não conseguem acelerar o trabalho;
- Sem as ferramentas certas ou formação adequada, os colaboradores poderão não conseguir provar os ganhos de produtividade;
- Redução de salário, especialmente agora em que se vive num clima de enorme incerteza económica.
O que um freelancer poderá dizer sobre este modelo?
Eu, freelancer, me confesso! Sou um trabalhador independente com total autonomia sobre o seu horário. Considero-me uma pessoa organizada, disciplinada, eficiente e capaz de produzir muito, com assertividade e qualidade. Mas quando os prazos apertam e tarefas se acumulam, não consigo trabalhar só quatro dias e às vezes, só trabalhando todos os dias da semana é que consigo cumprir com tudo o que é necessário fazer! Não significa trabalhar dias inteiros, mas às vezes, uma hora de trabalho num domingo, permite aliviar e muito a carga da semana.
Como eu, existirão muitos profissionais, que sendo imposta uma semana de trabalho menor (ainda que com as mesmas horas de trabalho), não conseguirão adaptar-se. Por isso, embora veja o mérito neste modelo, creio que a imposição cega não vá produzir os resultados desejados.
O ideal seria trabalhar menos e melhor? Sim. E o modelo é o da semana de quatro dias? Tenho dúvidas!
Na maioria das profissões intelectuais, mais do que modelos rígidos de horários e dias de trabalho, é mais interessante permitir formas permeáveis e ágeis de cada um organizar o seu tempo, modo e local de trabalho. Na minha opinião, depois dos dois anos de pandemia, o importante é continuar a testar novas formas e relações de trabalho: entre presencial, remoto, híbrido ou assíncrono, em conjugação com equipas internas e externas (freelancers ou outros prestadores de serviços). E claro, temos de compreender que há todo um outro grupo de profissões que exigem a presença dos profissionais no local em regime rígido de horário.
O que se prevê para o Futuro do Trabalho?
O modo como trabalhamos e até como nos relacionamos com o local de trabalho está a mudar, tendo essa mudança acelerado muito com a pandemia. Assente nessa alteração de paradigma e em modelos de colaboração mais digitais, o Future of Work é uma nova perspetiva de trabalho que ajuda as empresas a potenciar a produtividade, o work-life balance e a interação com os seus colaboradores.
Este conceito, apesar de ter um forte impacto ao nível dos processos de trabalho, dos meios tecnológicos adotados e da configuração das equipas de trabalho e do espaço físico das empresas, tem uma aplicação prática muito alargada, em função dos objetivos de cada empresa:
- Ways of work: Conjugação de modelos de colaboração totalmente remoto, híbrido ou presencial, síncrono ou assíncrono.
- Sourcing: Acesso a talento disponível em qualquer parte do mundo, não tendo que estar fisicamente na empresa.
- Libertação / reconfiguração de espaço físico nas empresas: compreender que o escritório pode ser o local onde reúne e colabora pontualmente, e não local obrigatório de trabalho.
- Simplificação e sofisticação dos processos de trabalho nas organizações: recorrendo a mais e melhores meios tecnológicos (ex. digitalização, automatização de tarefas, gestão documental ou inteligência artificial).
- Incremento dos mecanismos de planeamento, coordenação e monitorização da atividade: provavelmente a parte mais desafiante e que tem causado maior resistência à mudança, pois implica novas metodologias de trabalho onde se dá maiores opções de escolha às pessoas relativamente à natureza, forma, localização e tempo de trabalho, mas, ao mesmo tempo, se exige melhores resultados sobre o que é produzido.
Num momento da história em que a capacidade de adaptação das empresas e organizações tem, obrigatoriamente, de ser a regra e o work / life balance se tem tornado cada vez mais importante, procurar modelos flexíveis, ágeis, adaptáveis e justáveis ao contexto do momento é, na minha opinião, a opção que trará melhores efeitos! Modelos que permitam mais autonomia e responsabilidade individual, aliada a uma capacidade de resposta orientada aos resultados.
O tema é complexo e não se esgota em pouco mais de 1000 palavras. Ainda há muita incerteza, e nem eu mesmo, antecipo que a minha opinião não possa, entretanto, mudar. Por isso, gostava de ler a sua opinião: o que pensa sobre este assunto?