Já todos nos apercebemos que as pessoas partilham textos ou imagens nas redes sociais sem os ler ou analisar primeiro. E fazem-no com muita regularidade. Até aquelas pessoas que tomamos por sensatas e inteligentes são apanhadas a partilhar notícias falsas ou boatos rebuscados sem se darem ao trabalho de observarem a fonte dessa informação. Há até um estudo científico que sugere que partilhar só porque sim, ou apenas por ter essa opção, prejudica a nossa capacidade de digerir e lembrar o que partilhamos, influenciando negativamente a leitura e a aprendizagem.
Quando a sua atenção está parcialmente ocupada por pensamentos acerca de como vai partilhar ou emitir a primeira opinião ou reação sobre aquele pedaço de informação que está a ler é óbvio que não se irá focar em analisar e compreender o que leu, especialmente enquanto desliza pelo ecrã do computador ou do smartphone a toda a velocidade.
Não é por acaso que há tantos mal-entendidos na era das redes sociais. Há reações completamente desproporcionais a comentários ou piadas porque as pessoas não compreenderam o teor daquelas palavras ou porque simplesmente só se conhecem no mundo virtual sem nunca terem socializado no mundo real.
Deveria ser óbvio para todos nós que a atenção é um recurso limitado (nos dias de hoje, encontra-se em vias de extinção!). É por isso que são raras as pessoas que conseguem escutar e participar de duas conversas ao mesmo tempo e são muitas as que têm acidentes quando enviam um SMS enquanto conduzem! E se ficamos furiosos quando nos sentimos roubados nas nossas carteiras, a nossa indignação não deveria subir ainda mais quando nos roubam a atenção com notificações inúteis, emails fúteis ou mensagens fora de horas? Quantas vezes em reuniões de trabalho vemos os nossos interlocutores a desviarem a sua atenção do que está a ser debatido no momento para olharem para o telemóvel porque algo surgiu no ecrã? Não deveríamos aceitar isso com facilidade.
Agimos como se a capacidade de atenção fosse ilimitada, e não nos apercebemos como andamos completamente dispersos, sobrecarregados de informação tóxica, inútil, e exaustos mentalmente, à procura da próxima dose de dopamina enquanto refrescamos o ecrã na expectativa de algo novo e da apreciação de um like – não é por acaso que o link que partilho é da Associação Americana de Marketeers!
Podemos lidar com esta situação negando o problema e continuando a fazer esforços para nos convencermos que somos capazes de superar os limites da nossa atenção. Ou podemos, numa medida mais radical, abolir o uso de todas as redes sociais – afinal também se comunicava, se socializava, se partilhava informação e até se faziam negócios antes do advento das redes sociais!
Eu preferi uma solução intermédia.
Como é que utilizo hoje as redes sociais?
Não nego a utilidade das redes sociais. Aliás, elas foram responsáveis por muitos reencontros de amigos, colegas e até familiares que estavam distantes e de quem não se tinham notícias. Em alguns casos foram importantes na aproximação de pessoas que se encontravam separadas geograficamente. Também considero que são importantes para empresas, marcas ou organizações para comunicarem com as suas audiências, seja na captação de novos clientes ou no apoio aos mesmos. Em suma, as redes sociais têm um papel importante.
Tenho sido um utilizador de redes sociais desde 2010. Tenho conta no Facebook, Linkedin e Twitter que actualizo com frequência. Mas comecei a perceber que o tempo dedicado às redes sociais era demasiado e que muita da informação que aí consumia me fazia mal, tornava-me mais irritado, indignado, pois parece que vivemos hoje num mundo cada vez mais polarizado entre branco e preto, direita e esquerda, conservador ou liberal, certo ou errado, à minha maneira, de nenhuma maneira ou de qualquer maneira, factos reais ou factos-alternativos, e muitos outros extremos!
Assim, percebi que tinha de mudar a forma como estou presente nas redes sociais, mas não saindo por completo, pois faço uso delas para divulgar e promover boa parte do meu trabalho. Então, como fazer?
Em primeiro lugar, instalei uma extensão no Google Chrome (o meu browser de eleição) que simplesmente apaga o feed de notícias do Facebook, a rede social onde passava mais tempo. Assim, sempre que abro do Facebook não vejo nada no feed de notícias a não ser uma citação inspiradora. Para algumas pessoas que me são próximas, como família, programei uma notificação para cada vez que publiquem alguma coisa.
Para não cair em tentação, removi do meu dispositivo móvel todas as aplicações sociais, deixando apenas o Facebook Messenger. Também removi as contas de email do meu smartphone. É engraçado que o smartphone passou a ser mais phone do que smart!
Fazer tudo isto foi fácil… difícil continua a ser lidar com a ansiedade!
Mesmo após algumas semanas, tenho de reconhecer que o meu nível de ansiedade continua elevado. Dou por mim a pensar no tipo de novidades que poderia encontrar no Facebook ou Twitter – na verdade, o que sinto mesmo falta é daquela boa dose de dopamina! – especialmente quando estou numa situação em que não tenho nada para me distrair, como na fila do supermercado. O mesmo acontece em relação ao email: não poucas vezes dou por mim a pensar que não estou a responder a algo importante porque não tenho email no telefone.
Mesmo em situações em que tenho de estar concentrado a trabalhar, a minha mente ainda foge muitas vezes para pensamentos sobre o que se estará a passar nas redes sociais e o quanto estou a perder, seja um vídeo engraçado ou um evento especial de algum amigo. E não tem sido mesmo nada fácil ultrapassar estes pensamentos, especialmente quando passo tantas horas do dia com acesso à internet!
No entanto, creio que a longo prazo será melhor assim. Como defendi num artigo anterior, é importante lidarmos com o aborrecimento, ao mesmo tempo que educamos o nosso cérebro a concentrar-se na tarefa que tem de realizar naquele momento. Uma coisa é certa: desde que regressei ao trabalho depois das férias de verão – e a primeira semana foi especialmente exigente – percebi que o meu nível de produtividade subiu, ao mesmo tempo que não me sinto agastado pela quantidade absurda de informação inútil que consumia ao longo do dia.
Faço isto porque desejo proteger a minha atenção! Compreendo hoje melhor o quanto ela frágil e preciosa!
PS: daqui a 6 meses faço o balanço…