É comum as pessoas pensarem que é fácil gerir projetos e que elas próprias, com facilidade, saberiam gerir um projeto qualquer. Acham que um gestor de projeto é aquele que passa o dia a enviar emails a pedir (que é como quem diz, a dar ordens!) ou a perguntar por coisas (que é como quem diz, a cobrar pelo que ainda não está feito!) e que depois preenche umas grelhas no seu sofisticado programa de gestão de projeto.
A dura realidade é que muitas empresas estão inundadas de pessoas-que-pensam-que-sabem-gerir-projetos! São pessoas que muitas vezes são competentes na sua área técnica (por exemplo, são bons programadores, bons designers, bons produtores de conteúdos, etc) mas que lhes falta a competência mais importante que é saber gerir, lidar e cuidar de pessoas. Acho que é um erro quando uma empresa decide promover alguém a gestor de projeto só porque tem boas competências técnicas e é um funcionário dedicado e produtivo; como é um erro alguém aceitar essa promoção sem primeiro se autoavaliar se será capaz de cumprir essa função.
É que queiramos ou não admitir, nem todas as pessoas têm aquilo que é necessário para se ser um bom gestor de projeto. É que desejar muito não é suficiente do ponto de vista do carácter, capacidade ou coragem para se ser um bom gestor de projeto.
Pela minha carreira fora já trabalhei com muitos gestores de projetos: uns muito bons, outros muito maus. E nos projetos que geri, com certeza nuns fi-lo muito bem, noutros nem por isso. Também nunca tive nenhum treino específico em gestão de projeto; tudo o que sei, aprendi usando a metodologia do design (que outra havia de usar?): 1) definir o problema; 2) apresentar uma solução; 3) testar; 4) avaliar. E neste processo de experiência, pude aprender que para se ser um bom gestor de projeto é necessário um conjunto de características:
Tem de apresentar resultados: bons gestores de projeto apresentam resultados – isto é, trabalham e põem as mãos na massa! Mais, apresentam resultados acima das expectativas e com enorme atenção ao detalhe. Sem resultados ou um trabalho tosco é sinónimo de má gestão.
Mas os resultados não são conseguidos de qualquer forma: pois se o modo de apresentar resultados é através da intriga de corredor, da manipulação, do abuso de poder ou ameaça/pressão sobre a equipa, então é um gestor de projeto incompetente.
Não quer saber: a indiferença é uma característica que não cabe num bom gestor de projeto. Se há coisa que ele tem de ter inato em si é a vontade de saber o que se passa com a equipa, com o projeto, com o cliente, com os vários stakeholders a fim de poder prevenir problemas e antecipar soluções.
Quando só quer saber do título e não do projeto: se persegue apenas a posição na empresa e os seus interesses pessoais, então não está a desempenhar corretamente o seu trabalho. Um gestor de projeto tem de colocar os seus interesses e conflitos pessoais acima de si e perceber que está a trabalhar em benefício de algo maior, que é o projeto que tem em mãos.
Está mais preocupado em fazer promessas do que cumpri-las: diz sim a tudo sem verificar a exequibilidade; diz sim para agradar consoante os seus interesses pessoais; não se faz responsável pelas suas promessas.
Repele pessoas em vez de atrai-las: um gestor de projeto que é incapaz de falar de forma franca, empática e assertiva, que trabalha para a maioria alargada, analisando e respeitando os interesses de todas as partes, agirá como um íman de polos invertidos: em vez de atrair, repele.
Fica com os créditos todos: que clássico! O típico gestor de projeto mesquinho, que fica com os créditos todos quando tudo corre bem, mas responsabiliza a equipa quando algo não funciona.
Por último, quer saber mais da burocracia do que a motivação: coloca a burocracia sempre em primeiro lugar em vez de alimentar o lume da criatividade e da motivação. É aquele tipo de gestor de projeto inconveniente que discute por causa de burocracias em vez de discutir o problema e as soluções do projeto.
Acha que ficaram coisas por dizer? Então partilhe as suas experiências com bons e maus gestores de projeto.