Está a chegar a Web Summit e lá vamos ser submergidos em chorrilhos de notícias e reportagens sobre empreendedorismo, jovens empresários de sucesso e ideias multimilionárias!
O meu problema com essas notícias é que elas somente mostram o lado cor-de-rosa da vida de empreendedor (os prémios, as conferências, as capas de revistas), mas esquecem que estabelecer um negócio ou realizar uma ideia é uma tarefa árdua que implica tremendo risco e enorme sacrifício pessoal.
Um empreendedor não é patrão de si mesmo nem dono do negócio; pelo contrário, é o negócio que passa a ser o seu verdadeiro dono e o patrão que dita a regras do dia-a-dia. Veja, quando lança um negócio on-line, ele estará disponível para os clientes 24 horas por dia, 365 dias por ano. E pensar que as máquinas fazem tudo sozinhas ou que não deixam de funcionar é um sonho com unicórnios e fadas à mistura. E por isso é muito comum existir empreendedores a trabalharem 80-100 horas por semana para garantirem que o negócio progride, funciona bem e tem futuro.
Há também a ideia de que todos os empreendedores fazem fortuna rápida e ganham bom dinheiro. Mas as estatísticas dizem o contrário: 29% das empresas que fecham é porque ficaram sem dinheiro! Boa parte do dinheiro gerado por um negócio tem muitos outros destinos que não o bolso do empreendedor, sejam custos operacionais, salários de colaboradores, compromissos com bancos ou, sem nunca esquecer, pois é uma máquina ávida e que não dorme, o fisco!
É curioso também que muitas pessoas julgam que lançar um negócio on-line – seja um e-Commerce ou uma outra plataforma – custa pouco ou nada! Afinal, na Internet é tudo de graça e a AMEN.PT faz sites por 1€! Sim, há muita tecnologia gratuita, mas saber conjuga-la ou ajusta-la às necessidades requer conhecimentos especializados e esses conhecimentos custam dinheiro.
Existe também o mito que o empreendedor tem de ser apenas o visionário que delega noutros a construção a sua ideia. Vou dar dois exemplos clássicos para contrariar esta ideia: Bill Gates e Mark Zuckerberg, pois eram ambos excelentes programadores e escreveram milhares de linhas de código para a Microsoft e Facebook, respetivamente, quando estavam no começo das suas empresas. Além de serem os visionários – e um empreendedor tem de o ser – foram também eles quem levou por diante o trabalho de implementar as suas ideias.
E por último, desejo desconstruir a ideia que diz que um empreendedor é uma pessoa cheia de carisma, um comunicador nato que move multidões e um grande vendedor capaz de prosperar a vender gelo no Polo Norte. Uma vez mais, e tomando outra vez o exemplo dos fundadores da Microsoft e Facebook, vemos que não. Eram ambos geeks (não estou a ser depreciativo). Basta ver a figurinha do Bill Gates com aqueles enormes óculos e roupa sem estilo ou a inabilidade de Mark Zuckerberg a lidar com pessoas. É óbvio que ambos percorreram um longo percurso e hoje são figuras cheias de coolness; mas não creio que seja a coolness que faz um grande empreendedor.
E se foi um dos participantes da Web Summit, partilhe comigo a sua experiência, motivações e o que aprendeu.