O que aprendi com o insucesso do meu projeto on-line

Nove em dez startups fracassam. Sei o que é estar do lado da maioria pois o projecto on-line que fundei, há cerca de 3 anos, não sobreviveu.

Escrito com ❤️ a

12 de Abril, 2016

Nove em dez startups fracassam. Sei o que é estar do lado da maioria pois o projeto on-line que fundei, há cerca de 3 anos, não sobreviveu.

Foram cerca de nove meses, desde a ideia inicial até ao lançamento, em outubro de 2013 – numa maratona de intenso trabalho – para em janeiro de 2016 encerrar. Durante vinte e sete meses alimentei o sonho de que conseguiria tornar viável, económica e financeiramente, aquele projeto.

Seria mais fácil escrever um texto com dez conselhos para o sucesso de um negócio on-line e nem precisaria de grande esforço, pois bastava recorrer aos clichés bem conhecidos nos quais se afirma que, com muito trabalho, esforço e dedicação, todos somos capazes de alcançar sucesso. Pois bem, eu fiz isso tudo e não cheguei lá! Nesse projeto específico, não alcancei sucesso do ponto de vista da viabilidade do negócio, mas nele houve muitas coisas boas.

O propósito deste texto não é analisar o lado positivo do fracasso – que existirá sempre se do fracasso soubermos retirar lições valiosas que podemos aplicar noutras circunstâncias e situações da vida – mas de aprender com o insucesso.

Confesso que já havia pensado escrever algo sobre este tema, o que se tornou inadiável quando assisti a um debate na Nova School of Business & Economics sobre startups/projetos on-line que haviam fracassado. Ao escutar os jovens empreendedores participantes, revi-me neles e nas histórias que narravam.

Se é importante retirar lições quando se alcança sucesso, o mesmo é válido quando se fracassa. Os caminhos que levam ao sucesso podem ser percorridos múltiplas vezes, já os do insucesso convém que não se volte a trilhar.

É verdade que cada negócio e projeto têm as suas características e enfrentam circunstâncias próprias; no entanto, há lições comuns que podemos listar.

O fracasso nunca sabe bem

Ninguém começa um projeto a pensar no fracasso. É óbvio que quem despende tempo, energia e criatividade é para ser bem-sucedido. Lá porque se sabe que, em dez projetos on-line, nove fecham, não significa que se passe por esse processo de ânimo leve, sem dor ou luta.

Por isso, antes de avançar, o empreendedor deve equipar-se mental e psicologicamente para enfrentar o insucesso.

A linha do limite!

Foi unânime a conclusão, entre os convidados, que se deve, logo no início do projeto, traçar uma linha correspondente ao limite até ao qual há disposição para chegar se o projeto não tiver viabilidade. Tal limite refere-se ao capital a investir, ao tempo necessário à execução e às eventuais perdas do empreendedor. Assim, é necessário enumerar as metas a alcançar aquém dessa linha e que determinarão a continuação da ideia ou o seu abandono.

Foi interessante que, no meu caso e no painel convidado, não foi estabelecido esse limite, logo de início. Ou melhor, a ideia da linha limite existia, mas estava numa fase muito adiantada do projeto, o que significa que só após muito tempo e perdas acumuladas é que o alarme começou a soar. E ainda assim admitiram poder ter ido além dessa ideia de limite na esperança de que uma nova estratégia, uma nova ideia, uma nova funcionalidade, ajudariam a ultrapassar o estado de insucesso reconhecido.

Quem está a pensar iniciar um projeto deve criar, desde cedo, um plano com pequenos objetivos, que se deverão alcançar no espaço de 90 dias; no final, deve verificar em que ponto está da sua execução. Se esse plano foi cumprido escrupulosamente, então deve prosseguir. Se não os atingiu, deve refletir de forma consciente o que ficou por alcançar e se isso é recuperável.

Pode-se sempre voltar atrás

Seguindo ainda a ideia que explorámos acima, ao traçar pequenos objetivos, que devem alcançar-se antes de prosseguir, permite-nos voltar atrás e corrigir o que não está bem, sem se ter investido demasiado tempo e energia, sendo que as eventuais perdas serão menores.

Num projeto, a pior atitude que podemos tomar é a ideia de facto consumado ou pensar que, seguindo em frente, se poderá corrigir e tornar certo o que está errado. Uma má ideia ou a má execução de uma ideia em momento algum se tornará algo de valor.

O projeto deve avançar em pequenos passos. O empreendedor não tem que se precipitar e lançar mãos à obra sem antes ter refletido o suficiente, lembrando-se que, se algo está errado ou ainda tem defeito, não deve avançar sem corrigir.

O poder da equipa certa

Como seres humanos, temos tendência para nos agruparmos com pessoas com características e ideias semelhantes, com os mesmos interesses e perspectivas. Isso significa que, quando se inicia um projeto, tendencialmente escolhessem pessoas que não se diferenciam – assim, não há necessidade de grande debate ou discussão pois todas pensam e agem do mesmo modo. Esse é um erro enorme!

Para qualquer projeto são necessárias pessoas que sejam diferentes umas das outras, com qualificações e funções diferentes. O objetivo pelo qual trabalham é precisamente o mesmo e todas têm de estar alinhadas nisso, sendo que cada uma, como membro da equipa, deve contribuir consoante as suas competências.

A concepção e execução de um projeto on-line por uma equipa formada só por designers, engenheiros ou gestores terá grandes dificuldades para sobreviver pois faltam-lhe competências.

A ideia até pode ser excelente, mas…

Se não há apoiantes ou clientes, então não tem interesse. Pensando na minha própria história e dos restantes participantes, percebeu-se que todos tinham ideias válidas e bem construídas, mas isso não foi suficiente para a viabilidade dos respectivos projetos. O que falhou? Não alcançaram o número de pessoas – ou as pessoas certas – interessadas e dispostas a consumir o produto/ideia/projeto.

A ideia pode até ter o suporte dum amplo público, que a aplaude, entusiasticamente, mas se, no final, não se tornar cliente, então essa ideia está destinada ao insucesso.

Isso faz-me pensar sobre este ponto: se apresentamos a ideia a alguém que diz que gosta muito dela e, no final, não se torna consumidor, isso deve fazer soar o alarme de perigo.

O poder do mentor/conselheiro

Quando revejo a minha experiência, percebo que falhei redondamente neste ponto. Deveria ter procurado um mentor ou conselheiro que conhecesse bem a área de negócio do meu projeto. O caminho penoso que tive de trilhar para perceber todos os meandros em que estava envolvido aquele tipo de negócio fez-me perder muito tempo e energia. Mais, obrigou-me a recuar em muitas decisões porque estavam assentes em pressupostos errados.

Por isso, é importante encontrar quem nos possa aconselhar – porque tem um percurso de vida e conhecimentos válidos – a quem possamos recorrer quando necessitamos de orientação. Não mentores cheios de palavas doces e de pensamentos inspiradores irrealistas, mas que nos abra os olhos no momento certo. Um dos convidados falou nesse debate disso mesmo, como o seu mentor, com quem reunia mensalmente, iniciava a conversa perguntando se já havia fechado a empresa.

Confrontados com o insucesso

Quando estamos envolvidos num projeto e acreditamos conscientemente no seu valor é difícil aceitar que alguém nos confronte com o insucesso. Por isso, é mais importante estar atento às estórias de insucesso, pois podemos aprender muito com quem passou por elas.

Mesmo quando não queremos perceber que o nosso projeto vai fracassar e não acreditemos nisso nem nas palavras nesse sentido, devemos, pelo menos, parar para fazer uma profunda reflexão sobre o caminho que estamos a percorrer: o que alcançamos, que decisões tomámos, que resultados obtivemos, etc.

O fracasso nunca se digere bem. Porém, só fracassa quem tenta. E quem tenta poderá ter sucesso. Não deixe de tentar.

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