Atreva-se a pensar… diferente!

Pensar diferente exige esforço, pois temos de abandonar um conjunto de amarras que nos prendem, sejam elas ideias pré-concebidas, rotinas estéreis, insegurança sobre o desconhecido, diferenças que separam e paradigmas que nos são impostos.

Escrito com ❤️ a

13 de Junho, 2017

Qual a sua definição de inovação e criatividade?! O que é para si uma ideia, um produto ou um serviço verdadeiramente inovador e criativo? O que não faltam são definições sobre inovação e criatividade por esta internet fora e todas dizem mais ou menos o mesmo. A inovação é «gerar valor acrescentado em alguma coisa», seja um produto, um serviço ou um processo. A criatividade é a capacidade ou ato de conceber algo original ou incomum. Esta distinção vem a propósito pois nem sempre é clara a diferença entre as duas palavras.

Os conceitos criatividade e inovação são indissociáveis, no entanto não são sinónimos. Os autores Duaibili & Simonsen Jr. distinguem-nos afirmando que «A criatividade é a faísca, a inovação é a mistura gasosa. A primeira dura um pequeno instante, a segunda perdura e realiza-se no tempo. É a diferença entre inspiração e transpiração, a descoberta e o trabalho».

A criatividade é talvez uma das atividades mais gratificantes em que nos podemos envolver, pois requer a combinação de inspiração, observação e uma boa dose de «coragem de abandonar as suas certezas», como afirmou o psicanalista alemão, filósofo e sociólogo Erich Fromm.

Por sua vez, Albert Einstein afirmou que «A criatividade é ver o que todos já viram e pensar o que mais ninguém pensou». Esta afirmação é desafiante: ver o que todos já viram, mas pensar de forma alternativa, diferente.

Todos nós temos a capacidade de sermos criativos, é uma habilidade humana, mas há medida que os anos passam, parece que a maioria das pessoas conforma-se com as normas e as ideias feitas de que se rodeiam e o seu pensamento começa a ficar nublado, sem capacidade de observar mais longe ou com detalhe, com se sofressem dos mesmos sintomas da catarata ocular.

Empresários, organizações, produtos e serviços, também sofrem destes sintomas, quando afirmam que «sempre fizemos assim», «não há alternativa» ou «não é possível fazer diferente». Estas são frases de quem sofre de cataratas criativas: tudo o que sai do padrão conhecido é disforme, sentem dificuldade em interpretar o que está à volta e especialmente, em ver para lá do horizonte, do óbvio.

Tenho afirmado amiúde que os tempos em que vivemos são muito complexos para os negócios, que o cliente é muito mais exigente e não aceita qualquer coisa, especialmente quando há uma saturação de oferta de serviços e produtos que competem entre si. Se deseja que o seu negócio continue competitivo, então tem de ser capaz de pensar diferente!

Eu percebo que ao fim de alguns (ou muitos!) anos se perca a energia com que se começou, que o desgaste das lutas e das desilusões se apodere do empresário, especialmente, quando teve de combater para manter o negócio em tantos anos de crise em Portugal. Porém, uma atitude passiva, do género ficar a ver se a economia anima, é cravar mais pregos no caixão do que é solução.

Liberte-se dessas cataratas e veja o seu negócio com novos olhos. Examine os serviços ou produtos que oferece, assim como os seus concorrentes. Interrogue-se porquê e se esta é a melhor forma de alcançar o resultado. Procure respostas alternativas, sem preconceito ou medo do juízo de terceiros. Estimule a criatividade procurando respostas nos locais menos óbvios, por exemplo, em indústrias complementares ou opostas à sua. Um exemplo é o da companhia aérea Emirates. Em vez de se posicionarem como mais uma companhia aérea que leva os passageiros do ponto A ao B, decidiram investir fortemente na experiência do voo, mesmo em classe económica, tendo como inspiração os serviços de topo de hotéis e restaurantes de luxo.

Acredito que em todas as áreas da vida pessoal e na vida dos negócios e organizações há sempre espaço para a criatividade, desde que a mesma seja estimulada e façamos disso um hábito. Para isso, tem de cultivar uma curiosidade permanente e deixar-se inspirar constantemente, estando atento ao que o rodeia e com os sentidos despertos, tal como Isaac Newton, contou a um amigo seu como lhe ocorrera a ideia para a formular a teoria da gravidade, ao ver uma maçã a cair no chão. «Por que razão uma maçã desce sempre de forma perpendicular ao chão?», questionou-se o cientista.

Para pensar diferente desenvolva cenários alternativos e habite neles. Se gostaria de melhorar o seu serviço ou produto imagine esse cenário sem limitações, preconceitos ou juízos de valor. Dentro do mundo imaginário não há limitações, pois isso crie livremente na sua mente tudo o que deseja. Mantenha essas ideias na sua mente durante algum tempo e em cada momento do seu dia a dia, aplique-as mentalmente, isto é, se estiver a atender um cliente, por exemplo, imagine como seria essa atividade no seu mundo ideal.

Crie personagens e dialogue com elas. Não se preocupe em parecer meio maluquinho. Imagine o seu cliente ideal e dialogue com ele. Isso irá permitir compreender o quão preparado está para atender esse cliente, pois perceberá qual os seus desejos e aspirações e se é capaz de os atender. Dialogue com essas personagens perguntando-lhes quais as suas aspirações e de que modo pode ajudá-las. Dê-lhe nomes, rosto, profissão e idade. Verá o quanto poderá aprender com elas, pois tal como nas boas histórias, os melhores personagens são os que aprendem e crescem com os próprios conflitos.

Deite mãos à obra e não procure o perfeccionismo. São tantas as pessoas que dizem que gostariam de saber desenhar bem, tocar um instrumento ou ter a imaginação para inventar histórias. Ora nenhum ilustrador, músico ou escritor nasceu ensinado. A sua arte vem de muito treino e dedicação. Por isso, se deseja estimular a criatividade, comece de imediato sem pensar se o resultado é bom ou mau, e especialmente, sem estar preso ao perfeccionismo. O perfeccionismo, numa fase inicial de criação é como o veneno que paralisa, pois ficamos cheios de dúvidas sobre o mérito da ideia e a nossa capacidade de colocá-la em ação.

Pensar diferente exige esforço, pois temos de abandonar um conjunto de amarras que nos prendem, sejam elas ideias pré-concebidas, rotinas estéreis, insegurança sobre o desconhecido, diferenças que separam e paradigmas que nos são impostos. A minha tese é que não basta pensar diferente para estar certo ou errado. O certo ou o errado é provado quando a ideia é posta em prática, testada e abundantemente inquirida, de vários ângulos e perspectivas diferentes. Se a ideia passar nos testes então transforma-se em inovação.

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