No meu último artigo – Trabalhar melhor – escrevi sobre algumas técnicas que me têm ajudado a trilhar um caminho de maior eficiência e produtividade na minha atividade profissional. Fiquei especialmente feliz pelo interesse que esse artigo suscitou, pois foi, seguramente, o artigo mais lido deste ano de 2018. Obrigado a si que despendeu um pouco do seu tempo a ler.
Pelo interesse que gerou o artigo passado decidi dar continuidade ao tema, mas agora não voltado a técnicas de produtividade, mas o que tenho aprendido na minha carreira que gostaria que me tivessem ensinado nos bancos de escola.
Tal como tem sido hábito nos artigos que tenho partilhado, algumas destas lições são puramente do foro do senso comum e aplicáveis a qualquer profissão ou situação da vida, enquanto outras são mais específicas da minha formação como designer. Não são seguramente todas as coisas que já aprendi – estes artigos poderiam ter sempre acrescentos todos os anos – mas são algumas das mais importantes.
Sei que há sempre perigo quando nos expomos especialmente neste tipo de temas, pois cada um tem a sua experiência de vida e que não é repetível, mas ainda assim, guardo a esperança de que estes conselhos possam ser úteis a tantos e tantos designers que agora estão no começo das suas carreiras.
- Importe-se. Este conselho é especialmente importante pois se você não se importar o trabalho vai sofrer. Trabalhe por conta própria ou inserido numa organização é crítico lutar pela qualidade e seriedade do trabalho que se executa, mesmo quando outros não desejam levar a sério essa exigência.
- Saiba estar calado. Observe quem o rodeia e ouça com atenção o que é dito, mas também o que fica por dizer ou que tem de descodificar nas entrelinhas. Este conselho também pode ser saiba ouvir, mas na verdade, o que temos de aprender é a estar calados para deixarmos os sentidos atentos para não perdermos a tenção ao que é importante, pois está a pensar no que vai dizer a seguir.
- Feedback é essencial num projeto de design. Bom design não é arte (embora possa sê-lo) é uma solução efetiva e eficiente que resolve um problema. E para resolver o problema o designer tem de procurar feedback precoce e repetidas vezes (o feedback deve ter regras e já abordei este tema anteriormente). Sem feedback não há como saber se a solução proposta é a certa.
- Adicione sempre mais espaço branco. O espaço branco é um elemento de design transformador – quanto mais ele existe melhor vive o conteúdo. Arrisque em cada projeto a adicionar mais espaço em branco ajustando a escala de todos os elementos em favor de uma maior área de espaço livre. Bem sei que nem sempre é fácil de convencer quem nos rodeia a dar espaço pois como “bons capitalistas” é imperativo maximizar o espaço, preenchendo-o com toda a sorte de informação.
- O esgotamento é o pior receio de um criativo. É especialmente do seu interesse (e também do seu empregador) proteger-se do esgotamento físico e criativo. Bem sei que o ritmo a que se trabalha nesta área é avassalador. Mesmo quando somos jovens o perigo do esgotamento está sempre presente e quando nos atinge não perdemos só a capacidade física de trabalhar, perdemos o nosso ativo mais preciso, a alegria de criar.
- Alguns projetos são uma porcaria. Mas… são eles que nos pagam o salário e nem todo o trabalho que realizamos são motivo de ser expostos na montra do Dribbble ou Behance. O importante é realizar um bom trabalho com empenho e a exigência.
- Design é uma disciplina, não um hobby. Design é muito mais do que fazer as coisas bonitas — trata-se de resolver um problema. E para resolver um problema é necessário um processo, e processo requer disciplina. E como qualquer disciplina, tem de praticá-la cada dia. Nunca será um bom designer (não disse o melhor!) se tomar o design é apenas como um passatempo.
- Lembre-se, software de design é apenas mais uma ferramenta. Todos temos as nossas particularidades e gostos pessoais na utilização das diversas ferramentas ao dispor, sejam de software ou hardware. Não deixe é que as ferramentas ditem o resultado da criatividade. Aprenda a utilizar bem aquela ferramenta que gosta e se sente mais à vontade, mas não se deixe aprisionar a ela.
- Quando falhar… não é o fim do mundo, embora possa desejar desaparecer do mundo. Aceite o erro não como desculpa para continuar a errar, mas para empenhar-se em melhorar.
- Não se deixe dominar pela preguiça. A preguiça é um mal terrível. Uma coisa é querer trabalhar pouco – isto é, ser o mais eficiente e produtivo que possível – outra é não fazer o trabalho porque não quis esforçar-se ou por negligência. Um designer preguiçoso não vai longe na carreira.
Esteja a começar ou já seja um designer veterano (e até cheio de condecorações ao peito!) é importante continuar a seguir o caminho da aprendizagem e do empenho em melhorar a sua experiência profissional. Este é um caminho sem um destino pré-definido; o destino faz-se andando, andando, andando. Umas vezes fazemo-lo em passo apressado noutras em jeito de passeio aproveitando para admirar a paisagem.