Eu não posso agradar a todas as pessoas

Sei que não agrado todas as pessoas. Porém, não deixo de admitir que faço o meu melhor para agradar o maior número de pessoas. Melhor: mais do que gostar de agradar, quero que todas as pessoas gostem de mim e do meu trabalho.

Escrito com ❤️ a

20 de Abril, 2022

Sei que não agrado todas as pessoas. Porém, não deixo de admitir que faço o meu melhor para agradar o maior número de pessoas. Melhor: mais do que gostar de agradar, quero que todas as pessoas gostem de mim e do meu trabalho. Isto faz-me recordar aquele episódio de Seinfeld onde a mãe do Jerry pergunta perplexa «How can anyone not like you?»

Se na vida pessoal não conseguimos agradar a todos, nos negócios, nos projetos e nas organizações, tentar fazê-lo é estar a cavar um buraco sem fundo do qual será muito difícil de sair. O normal, é ficar preso no próprio buraco, exausto, sem conseguir cavar mais, mas também sem conseguir sair. Ou pior, acabar asfixiado através de um aluimento de terras. A imagem pode não ser muito agradável, mas é assim mesmo que acontece a muitos líderes, empresários ou freelancers: na tentativa de agradar a todos, acabam por não agradar a ninguém – nem a si mesmo.

É como aquela história do Velho, do Rapaz e do Burro que fala sobre a tentativa falhada de agradar a todas as pessoas, sendo tal impossível independentemente da solução adoptada.

Há que perceber que tentar agradar a todos é correr um risco enorme cujas consequências são muitas vezes imprevisíveis e perigosas. Já me aconteceu isto com clientes e projetos em tantas e tantas situações.

Todo o líder tem de ter uma visão pragmática e saber muito bem quais são as prioridades. Entre project managers há muitas vezes a dicotomia de agradar os clientes/gestores/administradores, equipa operacional ou os utilizadores/consumidores do produto/serviço/organização. É uma posição tramada.

É interessante que desde 2017 exijo saber quem são os elementos da equipa de um projeto que têm o poder da decisão e da operação, mas só agora, 5 anos volvidos, é que compreendi como é que devo usar corretamente essa informação. Mais do que uma questão formal, saber quem são os decisores indica quem são as pessoas a quem tenho de, mais do que agradar, ser leal! Pode parecer uma verdade de La Palisse, mas quando estamos a gerir projetos com equipas multidisciplinares, a primeira tentação é a de eliminar o conflito. Queremos levar tudo na paz, mas acabamos flanqueados no encobrimento da incompetência e do desleixo, da falta de ética e compromisso, com gente que não é capaz de ver a trave no olho da sua incapacidade quanto mais de compreender a inteligência de muitas decisões e ações. Pior, neste estado calamitoso, pensamos que estamos a servir bem os nossos elementos decisores ao não os incomodar com as deficiências da operação.

Voltando a Seinfeld e à pergunta da mãe, o pai responde: «Maybe some people dont like him, I can see that!» É isso! Em qualquer projeto será impossível agradar a todos! Isso não é mandatório na gestão e no desenvolvimento do projeto. O que é mandatório é a lealdade estabelecida a quem o contrata, quem lhe paga, quem tem poder de tornar aquele trabalho numa realidade, quem tem ambição, quem está empenhado no sucesso e quem o admire!

A única classe que vive para agradar a todos é a política. Não leia isto com tom de escarnio, mas facilmente observamos isso nos seus discursos em que prometem tudo a todos, ou nas leis que aprovam, escritas com dezenas de excepções, às vezes pouco transparentes, tal teia kafkiana da qual ninguém se desembaraça, mas com o objetivo final de agradar a todos e não excluir ninguém. (Isto leva-nos à discussão se o Estado pode excluir alguém. Talvez noutros fóruns pudéssemos refletir sobre isto.)

Num projeto não podemos seguir este caminho. Há que ter uma missão clara do que se deseja alcançar e a quem devemos lealdade institucional. Quando nos desviamos disso e entramos na espiral de agradar a todos, o resultado é o prejuízo, a destruição da reputação, o insucesso e a infelicidade.

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