Procurava frases de famosos num daqueles websites de citações quando me deparei com esta:
Make sure your worst enemy doesn’t live between your own two ears.
A autoria é atribuída a Laird Hamilton, conhecido como surfista de ondas gigantes e pioneiro no mundo dos desportos aquáticos de ação.
Confesso que depois de ter lido esta frase sobreveio em mim um sobressalto! De imediato comecei a refletir que é mais fácil conquistar e dominar o mundo exterior – como o tempo, a técnica, os desafios – do que subjugar o mundo interior – o medo, a dúvida ou a falta de confiança.
Quando a dúvida, o receio ou o medo entra em nós começa de imediato uma guerra na nossa mente. E é aí que começamos a ouvir aquela voz estridente que não se cala, a dizer:
- Para que faço isso?
- Ui, isto é muito difícil… nem vale a pena tentar.
- Mas alguém vai apreciar o que estou a fazer?
- Não será melhor estar quieto?
- Será que tento? E se falhar?
- Serei suficientemente bom?
- O meu trabalho valerá esse preço?
E a lista poderia continuar.
De facto, a mente pode ser nossa aliada ou inimiga. O grande desafio é saber em que campo de batalha ela se posiciona e como reagir quando escolhe o lado errado.
É aqui que o auto-conhecimento é importante. Envelhecer não é só ficar com cabelos brancos ou rugas: é a oportunidade de acumular experiências e aprender com elas, retirando conclusões sobre aquilo em que sou bom e aquilo em que sou mau. É esse auto-conhecimento que vai posicionar a nossa mente no sítio certo. Deixe-me partilhar algo pessoal: eu detesto o desconhecido. Ir a um local que não conheço, falar com pessoas que nunca vi ou não saber de antemão o que falar com alguém é para mim uma experiência dilacerante. Seja em lazer – entrar num novo restaurante – seja profissionalmente, enfrentar o desconhecido gera em mim uma enorme ansiedade. Então, eu tenho de saber o que despoleta essa ansiedade em mim e arrastar (muitas vezes, à força e debaixo de pancada) a minha mente para o campo certo: o da confiança e otimismo!
Outro aspeto que leva a nossa mente a posicionar-se no lado do inimigo são as expectativas, especialmente quando elas estão num nível demasiado elevado. Durante anos coloquei as expectativas em relação aos outros, mas especialmente em relação a mim, num patamar muito difícil de alcançar. Muitas vezes temos expectativas demasiado elevadas, seja em relação a nós mesmos, aos nossos clientes, ao nosso trabalho, aos nossos amigo e familiares, a acontecimentos da vida, etc! Mas entre as nossas expectativas e o mundo real vai um oceano de distância. Temos de convencer-nos que não controlamos as pessoas nem os acontecimentos. Controlamos a nós mesmos, e às vezes nem isso.
Não defendo que não devamos ter expectativas. Penso que isso também não seja saudável. Tenho antes procurado aprender a gerir as expectativas de forma a não me afeiçoar muito a elas. Explico: claro que tenho sempre a expectativa de que o cliente vai gostar do resultado do meu trabalho, mas se tal não acontecer, também não fico abatido. Claro que tenho expectativas que serei sempre capaz de cumprir com o meu trabalho segundo aquilo que prometi, mas se tal não acontecer, tenho de aceitar que sou apenas humano e que nem sempre acerto. Quando sabemos controlar as expectativas, também sabemos controlar a desilusão.
Por fim, aceite a imperfeição. O mundo é imperfeito e nós fazemos parte dessa imperfeição. Quando vivemos em busca da perfeição, vivemos em guerra permanente. Nunca há paz e nada é suficientemente bom. Não escondo que cedo muitas vezes a minha mente para o campo inimigo. Não importa o que seja, parece que estou sempre a escutar aquela voz trocista que diz que o meu trabalho não está bom, a minha camisa está amarrotada, o cabelo despenteado, que me enganei a falar, que toda a gente me viu a tropeçar, que este texto terá com certeza algum erro ou gralha, etc…
Estas são batalhas reais e diárias. Todos os dias temos de perceber se a nossa mente está no campo certo da batalha, isto é, se ela luta a nosso favor ou contra. Não creio que bastam mantras positivistas para resolver, pois não servem mais do que enganar a nós próprios. Creio antes que temos de permanentemente avaliar a voz e a mensagem que escutamos para identificarmos de que lado ela está.