Começo este artigo com uma confissão: sou um otimista. Não sei se Marcelo Rebelo de Sousa me qualificaria como otimista «crónico e às vezes ligeiramente irritante», mas a verdade é quando me debruço sobre um problema, tendo a imaginar sempre um desfecho de sucesso, num cenário positivo e reluzente.
Não sei se esta é uma característica inerente a todos os designers, que são por natureza solucionadores de problemas e por isso são capazes de ver através do nevoeiro e da desordem na busca de uma solução.
Na dicotomia entre copo meio cheio (otimismo) ou meio vazio (pessimismo) da abordagem a um problema / desafio, acredito que é a atitude positiva e otimista do designer que lhe permite ir no encalço da solução, ou, pelo menos de uma solução melhor ou alternativa, sem sucumbir às muitas tentativas falhadas que exige esse processo, pois o processo criativo habitualmente desenvolve-se através da definição do problema, na recolha e análise de informação, desenvolvimento de ideias e soluções e sua avaliação, e por fim, teste e experimentação, num ciclo permanente de tentativa e erro.
A crença nas nossas ideias e capacidades é muitas vezes considerada como a característica mais valiosa que podemos cultivar, pois, afinal, o otimismo não é apenas saudável, como também alimenta a paixão, encoraja o risco e inspira a coragem.
No seu livro best-seller «Pensar, Depressa e Devagar», o prémio nobel em economia Daniel Kahneman, chamou ao otimismo o «motor do capitalismo»:
«Os indivíduos otimistas desempenham um papel desproporcional na forma como moldam as nossas vidas, pois as suas decisões fazem a diferença. Falamos dos inventores, empreendedores, líderes políticos e militares.»
Todos somos capazes de reconhecer os benefícios do otimismo. E de certo modo tendemos a apreciar mais as pessoas otimistas às pessimistas. Os otimistas tendem a ser inspiradores e fazem-nos querer seguir as suas pegadas. Mas neste artigo desejo virar o otimismo do avesso e refletir um pouco sobre o seu lado mais obscuro.
Continuando com Kahneman, ele afirma que a maioria de nós vê o mundo como sendo mais amigável do que realmente é; aos nossos próprios olhos, a nossa imagem é habitualmente mais favorável do que na verdade é; e os objetivos que adotamos parecem-nos sempre mais fáceis de alcançar do que a realidade prova.
E é aqui que estas palavras se tornam tão fortes, pois mostram que o otimismo pode ser perigoso por desvirtuar a realidade, pois com facilidade caímos naqueles mantras de que tudo vai correr bem ou que com muito trabalho se alcança o sucesso e a prosperidade.
Quando as opiniões pessimistas são suprimidas, enquanto as otimistas são recompensadas, a capacidade de pensar criticamente é prejudicada.
Então, como temperar o otimismo, procurando um equilíbrio mais saudável entre vontade e realidade?
Comece por planear antecipadamente o seu funeral.
Não se assuste, o exemplo pode parecer extremo, mas acompanhe-me. Em vez de conceber apenas cenários onde acha que tudo resultará o melhor que possível, faça precisamente o oposto. Planei de antemão o que acontecerá se aquela ideia ou negócio não resultar. Em vez de esperar até que seja tarde demais, analise o que acontecerá se tudo correr mal, ainda antes de avançar.
Pode parecer desmotivador pensar em tudo o que pode correr mal com a sua ideia ainda antes de pô-la em prática, mas a realidade é que quando faz este exercício, fica mais propenso a tomar todas as medidas necessárias para garantir que o projeto nasce direito e na direção certa.
Tempere o otimismo com a realidade dos números.
Nove em dez startups fracassam. Sei o que é estar do lado da maioria pois o projeto on-line que fundei, há cerca de 4 anos, não sobreviveu. Durante meses alimentei o sonho de que conseguiria tornar viável financeiramente aquele projeto. A cada nova ronda de trabalho para aperfeiçoar e dotar aquele negócio de mais atrativos para os clientes, sentia-me otimista quanto aos resultados. Mas no final, a crua realidade dos números não deixou margem para outra decisão: encerrar.
Melhor do que correr atrás da ilusão é utilizar a energia e o tempo aprendendo com os erros, esmiuçando as razões pelas quais correu mal e recuperando o ânimo para investirmos noutra ideia. Esta aprendizagem com o insucesso é, em última análise, um dos segredos mais importantes para aprendermos a tomar melhores decisões.
Reconheça as suas limitações.
A melhor forma de temperar o seu otimismo com uma dose de realismo é conhecer as regras do jogo, seja nos negócios ou na vida pessoal. Conhecer as regras do jogo é entender qual o seu papel no tabuleiro, quais as suas probabilidades, quais as suas limitações, quais os perigos e as escapatórias, definindo deste o começo a estratégia a utilizar, sabendo aproveitar todas as reviravoltas que sucederem.
Quer isto dizer, que se deseja iniciar um negócio ou um qualquer outro projeto, é importante que conheça bem o ecossistema envolvido, tais como mercado, público-alvo e concorrentes.
Rodeie-se de pessoas diferentes de si.
É sabido que preferimos estar com pessoas que nutrem dos mesmos gostos e princípios de nós mesmos. É humano. E se formos do tipo otimista é natural que prefiramos a companhia de pessoas, também elas, otimistas.
Mas isso é uma receita para o desastre. A verdade é que necessitamos de nos contrabalançar com a companhia de pessoas que são diferentes de nós. Se somos do tipo otimista, então temos de aproximar de pessoas realistas (e até pessimistas!) para nos ajudar a ver o que não conseguimos enxergar. E o contrário também se aplica. É o delicado equilíbrio entre ambição otimista e pensamento racional que se cria um ambiente dinâmico que propícia a inovação e o crescimento.
Este não é um artigo pessimista sobre o otimismo. Entender que nem sempre com otimismo chegaremos a bom porto, não significa que o abandonemos. Significa, antes, que estamos devidamente equipados para enfrentar a realidade com as ferramentas certas.