Sentir-se frustrado é talvez o sentimento mais recorrente de um designer. Creio que um designer para ser bom no seu trabalho tem de sentir-se frustrado muitas vezes (não digo constantemente, pois não há saúde mental que aguente tal condição).
Se alguém que trabalhe em projetos criativos disser que nunca se sentiu absolutamente frustrado com o que faz, recomendo que não acredite. A frustração é ótima nestas profissões pois é ela que vai despoletar o engenho na resolução de um problema. Essa é a parte boa de ficarmos frustrados: é que desperta a curiosidade pelo problema (ou o que consideramos estar mal) e logo de seguida a criatividade. Eu gosto de sentir este tipo de frustração!
Mas há um outro tipo de frustração e essa deixar-nos em muito mau estado. Falo-lhe de quando não conseguimos encontrar a resposta ao problema. Ou quando ficamos bloqueados. Ou quando não somos mais capazes de articular nenhuma outra ideia ou solução senão aquelas que testámos e falharam. Ou quando parece que estamos a abrir mais buracos num projeto que parece um queijo suíço, quando o que desejávamos era tapa-los.
Acredite: a frustração está no cerne do trabalho criativo. É totalmente normal e temos que aceitá-la. Quando se está a fazer algo pela primeira vez ou em busca de resposta a um problema que não vem propriamente descrito na grande Enciclopédia Britannica, então há que estar preparado para se falhar muitas vezes. E falhar no contexto de experimentação e aprendizagem é totalmente aceitável, pois é com esses resultados que se criam a oportunidade de se fazer melhor. Este processo de aprendizagem leva tempo e requer perseverança (eu sei que nem sempre os Project Managers, Accounts ou os próprios clientes entendem isto, mas é fundamental estar sempre a relembrar).
O conselho clássico que escutamos quando estamos frustrados é que devemos pensar ou fazer outra coisa. Não significa que se esteja a fugir ao problema, mas esse afastamento permite ganhar uma visão mais alargada e com maior profundidade de campo. Forçar a mente a continuar a trabalhar nesse assunto – seja por desespero, obrigação ou orgulho – pode dar resultados piores. Por isso pare um pouco e deixe o subconsciente trabalhar silenciosamente a seu favor.
Mas se for como eu, sabe que esse conselho funciona pouco ou nada. Enquanto não conseguir entender a raiz do problema e encontrar a solução para ele, sou incapaz de me afastar. Então para conseguir sobreviver nesta situação, aplico apenas duas pequenas regras:
- Aceito a ignorância, isto é, resigno-me que não encontrarei resposta àquele problema tão cedo e por isso vou ter de continuar a viver com ele. Isso não é fugir do problema ou ignora-lo, é simplesmente dar tempo para que novas experiências e conhecimento futuro me permitam ganhar outro tipo de capacidades e perspetivas sobre o que está em causa.
- Aceito a solução possível. Pode não ser perfeita (mas existem mesmo soluções perfeitas?) mas funciona e garante o resultado desejado. Em vez de me agarrar a uma só solução, permito-me ver o que outras soluções têm de positivo.
Lidar com a frustração é difícil e que o diga o meu filho mais novo de 5 anos que ainda chora quando se sente frustrado… O importante é não deixar que a frustração tome o controlo. Use-a como base criativa na busca de ideias e soluções. Aceite a ignorância e de que pode ainda não estar no momento certo da vida e da carreira para entender o problema e apresentar uma solução à altura; mas não deixe de tentar, pois haverá o tempo em que frustração dará lugar ao sucesso.