Até há poucas dezenas de anos a carreira de um designer evoluía num ritmo mais lento e de alguma forma mais segura, isto é, havia mais tempo para o aperfeiçoamento da técnica, que se ia treinando ao longo de muitos anos. Eu estou longe desse tempo, mas recordo-me de ouvir o testemunho de velho tipógrafo a contar como começou na oficina de uma antiga gráfica, miúdo, a ver como os mestres juntavam as letras e compunham as frases, e do tempo que demorou até o darem como apto para seguir esse trabalho. Os tempos eram outros e dificilmente se repetirão.
É fácil reconhecer que para se afirmar como designer num mercado competitivo como o de hoje é preciso lutar com afinco. A concorrência é muita e cada vez mais bem formada, seja porque os modelos e a oferta de educação têm mais qualidade e formatos mais práticos, seja também pelo acesso simplificado a tecnologia que faz mais com menor esforço, terminando nessa fonte de conhecimento inesgotável chamada Internet.
Quando olho para trás não sinto dificuldade de reconhecer que sou hoje um melhor designer do que quando comecei. Nada acontece da noite para o dia. É necessária uma dose imensa de dedicação, muita prática e paciência para manter a chama da curiosidade acesa. Não importa o quão bom se é hoje. O que realmente importa é o quão rápido se progride e que passos se dá diariamente no sentido de melhorar as competências técnicas e criativas.
Para se se fazer um trabalho de qualidade é necessário, em primeiro lugar, aprender a reconhecer o bom design do mau. Acredito que isso tenha que ver mais com experiência do que com gosto, pois, quando mais experiente o designer é, mais depressa percebe se está diante de uma boa ou má solução. (É verdade que essa segurança de avaliar com grande antecipação se uma solução é boa ou má pode resultar em alguma falta de risco ou disrupção. Por isso é importante não perder um certo ímpeto rebelde, de querer quebrar as regras.)
Assim, é importante treinar o olhar e manter a mente aberta e disponível a responder a perguntas como: «O que torna este design tão bom? Que solução inovadora foi aplicada?». Faça isto focando-se em elementos específicos, como tipografia, cor, composição, comparando-os com outros trabalhos realizados por si. Procure entender os motivos para aquele designer tomar aquela decisão específica e nesse contexto, proponha a si mesmo, a sua própria solução. Este exercício de «faz de conta» permite treinar a capacidade crítica, que será muito útil no momento de julgar o próprio trabalho.
Não julgue que os grandes designers do passado e do presente nasceram ensinados. Tudo na vida pode ser aprendido e para tal é necessário manter a mente aberta e a humildade de reconhecer que há sempre outros com melhores ideias e maior talento.
Como afirmei acima, tudo muda tão rápido, que se queremos que o nosso trabalho continue relevante, necessitamos de estar atentos às novas técnicas e tendências de design. Não quero com isto dizer que devemos seguir religiosamente as novas tendências de design, tal como são apregoadas no início de cada novo ano, aplicando-as a todos os projetos, mesmo os que não são adequados. Pelo contrário, as tendências de design é que têm de fazer sentido para o projeto.
É muito tentador ficar a ver aqueles tutoriais de Photoshop «passo-a-passo». No entanto, não são eles que irão aperfeiçoar as suas capacidades como designer. O bom design não começa no Photoshop, começa sim, na cabeça e no papel. Mais do que dominar ferramentas (que não importante), deve primeiro dominar a teoria do design e todos os seus conceitos básicos. Por isso, não é mau voltar aos livros e recuperar alguns dos primeiros conceitos que aprendemos na escola, como Alinhamento, Contraste, Proximidade ou Repetição.
Um designer pode ser comparado a um actor, que dependendo do personagem que interpreta, adapta o seu estilo. Porém, é fácil reconhecer que só uma mão cheia de atores é capaz de interpretar com mestria personagens absolutamente opostos. O comum é associarmos um actor a um determinado tipo de personagem ou filme. Por exemplo, dificilmente o actor Jason Statham se encaixaria num filme inspirado num qualquer romance de Nicholas Sparks.
O exemplo de cima pode parecer um tanto ou quanto tonto, mas o que desejo fazer entender é que é importante um designer perceber cedo o tipo de projetos em que se encaixa e qual o seu estilo pessoal que o torna memorável. A meu ver, dificilmente um designer consegue dominar bem todos os estilos visuais ou tipo de projeto a executar, sendo por isso importante, determinar o seu estilo visual próprio e aperfeiçoá-lo com o tempo. Não pense que isso o fará um profissional limitado, pelo contrário, esse estilo visual próprio é o que faz de si único, como uma marca registada. E não pense que é tarefa fácil seguir este caminho!
Seja um designer experiente ou em início de carreira, deve ter sempre em mente que tem de trabalhar para evoluir constantemente, seja estudando os trabalhos de reconhecidos designers ou projetos que ache inovadores, relembrando de tempos a tempos alguns dos conceitos básicos da teoria do design, aprendendo novas técnicas e melhorando todos os dias o seu estilo visual pessoal.
E se deseja autoavaliar-se, pergunte-se a si mesmo o que pensa daquele projeto que executou no ano passado; faça uma análise crítica tendo como ponto de partida o que sabe hoje e não sabia naquele momento; reflita na solução que aplicou e se ela ainda hoje é válida. Nesse exercício simples pode avaliar como está a progredir como profissional e a que velocidade o está a fazer.