O perigo de seguir o plano

Por estarmos tão apegados ao plano / ideia / projeto / processo inicial, convencemo-nos cegamente que temos de seguir a diante mesmo quando os sinais ou resultados digam precisamente o contrário.

Escrito com ❤️ a

21 de Abril, 2022

Diga-me com o qual tipo de pessoa se identifica mais:

  1. A que planeia uma Acão/atividade/decisão e aconteça o que acontecer mantém-se firme?
    Ou
  2. Aceita que o plano pode ir mudando à medida que o vai executando, podendo o resultado ser ou não aquele que era pretendido?

Provavelmente dirá que se relaciona mais com a segunda, pois é a que se parece mais sensata. E é. Mas, infelizmente, a maior parte das pessoas age na maioria das situações mantendo-se fiel ao plano inicial. Chama-se a este comportamento de (Plan) Continuation Bias e pode ser definido como «um desvio cognitivo inconsciente para continuar com o plano original, apesar das mudanças nas condições».

Um exemplo onde este tipo de comportamento é observado e estudado com regularidade é no comportamento dos pilotos de aviação. Em muitos acidentes (graves ou não) concluiu-se que o piloto do avião manteve-se firme no seu plano de aterrar o avião, por exemplo, mesmo quando as condições atmosféricas se alteraram de súbito, tornando toda aquela tarefa mais difícil e perigosa. O piloto, ao invés de absorver aquela nova informação – a deterioração meteorológica – e agir de acordo, mantém-se firme no propósito de aterrar o avião, pois era esse o plano inicial, sente-se capaz de o fazer e não dá a importância devida aos sinais de alarme. São muitos os exemplos reais onde isto aconteceu e alguns até foram retratados na popular série de televisão, Mayday, desastres aéreos.

O objetivo deste texto não é despertar em si o sentimento de insegurança nos pilotos de avião, até porque não são eles os únicos a sofrerem deste comportamento. Eu sofro, você sofre, a pessoa que está do seu lado também sofre, e provavelmente 99% dos habitantes do planeta sofrem. É interessante que quando pensamos sobre este comportamento por este prisma, percebemos que rótulos como determinado ou teimoso passam a ser um tanto ou quanto simplistas, pois certas atitudes podem esconder algo mais complexo do que está à vista. É óbvio que não estou para aqui armado em psicólogo de café.

A razão para trazer este assunto é que este «desvio cognitivo inconsciente para continuar com o plano original, apesar das mudanças nas condições» é o responsável por muitos erros que cometemos e más decisões que tomamos, seja no desenvolvimento de uma ideia, na criação de um negócio, na gestão de um projeto, na organização do tempo, etc.

Uma vez estabelecido o plano e criada em nós a determinação e o compromisso de o cumprir, parece que nada nos demove de seguir nessa direção, mesmo quando todos os sinais de alerta são claros e inequívocos. Tal acontece porque não dedicamos tempo a analisar o plano em função dos resultados ou objetivos, nem temos o entendimento para mudar de rumo. Persistimos, mesmo quando o plano original deixa de fazer sentido ou se encontra desatualizado.

Por estarmos tão apegados ao plano / ideia / projeto / processo inicial, convencemo-nos cegamente que temos de seguir a diante mesmo quando os sinais ou resultados digam precisamente o contrário; continuamos a investir tempo / recursos / energia para o plano ou projeto, resultando em desperdício ou em piores resultados. Este (Plan) Continuation Bias também é resultado de uma certa cultura enraizada que não tolera más notícias e suprime todo o tipo de discurso de alerta, de precaução ou de diligência. 

Considerando a complexidade do contexto em que vivemos hoje, tendo em conta a quantidade de informação disponível e o pouco tempo para tomar decisões (entre outros fatores críticos), muitas vezes não somos capazes de ter a calma e a clarividência na tomada de decisão ou avaliação do plano ou estratégia. Agimos ou decidimos por reação e não ação própria.

Não é fácil o equilíbrio entre focarmo-nos nas tarefas ou ações a serem executadas e entender os sinais que estão a acontecer à nossa volta. Entender o que está a acontecer à nossa volta dá-nos a hipótese de perceber as ameaças inesperadas e descobrir como agir antes de perdermos o controle.

Quer levar estas reflexões consigo?

You've Got M@il: reflexões sobre design, criatividade, carreira e negócios

Se gostou deste artigo, vai querer mergulhar em You’ve Got Mail. Este livro nasceu da vontade de reunir num só lugar as ideias e reflexões que tenho partilhado ao longo dos anos — sobre criatividade, tecnologia, estratégia, carreira e tudo o que acontece quando estas áreas se cruzam.

Mais do que uma compilação de textos, You’ve Got Mail é um convite à leitura com tempo: para sublinhar, repensar caminhos e voltar sempre que precisar de foco ou inspiração.

Outros artigos

Estoril Conferences: novo website

Imbuído no espírito da marca Estoril Conferences e do seu universo visual rico, desenhei um website com uma experiência gráfica muito forte e dinâmica. Todos os elementos surgem de forma animada, gerando no utilizador suspense e curiosidade.

Continuar a ler

Desafios de um designer

Este texto foi inspirado nas centenas de respostas que li num fórum do Linkedin sobre as dificuldades que designers, de várias disciplinas, enfrentam na sua profissão.

Continuar a ler