Diga-me com o qual tipo de pessoa se identifica mais:
- A que planeia uma Acão/atividade/decisão e aconteça o que acontecer mantém-se firme?
Ou - Aceita que o plano pode ir mudando à medida que o vai executando, podendo o resultado ser ou não aquele que era pretendido?
Provavelmente dirá que se relaciona mais com a segunda, pois é a que se parece mais sensata. E é. Mas, infelizmente, a maior parte das pessoas age na maioria das situações mantendo-se fiel ao plano inicial. Chama-se a este comportamento de (Plan) Continuation Bias e pode ser definido como «um desvio cognitivo inconsciente para continuar com o plano original, apesar das mudanças nas condições».
Um exemplo onde este tipo de comportamento é observado e estudado com regularidade é no comportamento dos pilotos de aviação. Em muitos acidentes (graves ou não) concluiu-se que o piloto do avião manteve-se firme no seu plano de aterrar o avião, por exemplo, mesmo quando as condições atmosféricas se alteraram de súbito, tornando toda aquela tarefa mais difícil e perigosa. O piloto, ao invés de absorver aquela nova informação – a deterioração meteorológica – e agir de acordo, mantém-se firme no propósito de aterrar o avião, pois era esse o plano inicial, sente-se capaz de o fazer e não dá a importância devida aos sinais de alarme. São muitos os exemplos reais onde isto aconteceu e alguns até foram retratados na popular série de televisão, Mayday, desastres aéreos.
O objetivo deste texto não é despertar em si o sentimento de insegurança nos pilotos de avião, até porque não são eles os únicos a sofrerem deste comportamento. Eu sofro, você sofre, a pessoa que está do seu lado também sofre, e provavelmente 99% dos habitantes do planeta sofrem. É interessante que quando pensamos sobre este comportamento por este prisma, percebemos que rótulos como determinado ou teimoso passam a ser um tanto ou quanto simplistas, pois certas atitudes podem esconder algo mais complexo do que está à vista. É óbvio que não estou para aqui armado em psicólogo de café.
A razão para trazer este assunto é que este «desvio cognitivo inconsciente para continuar com o plano original, apesar das mudanças nas condições» é o responsável por muitos erros que cometemos e más decisões que tomamos, seja no desenvolvimento de uma ideia, na criação de um negócio, na gestão de um projeto, na organização do tempo, etc.
Uma vez estabelecido o plano e criada em nós a determinação e o compromisso de o cumprir, parece que nada nos demove de seguir nessa direção, mesmo quando todos os sinais de alerta são claros e inequívocos. Tal acontece porque não dedicamos tempo a analisar o plano em função dos resultados ou objetivos, nem temos o entendimento para mudar de rumo. Persistimos, mesmo quando o plano original deixa de fazer sentido ou se encontra desatualizado.
Por estarmos tão apegados ao plano / ideia / projeto / processo inicial, convencemo-nos cegamente que temos de seguir a diante mesmo quando os sinais ou resultados digam precisamente o contrário; continuamos a investir tempo / recursos / energia para o plano ou projeto, resultando em desperdício ou em piores resultados. Este (Plan) Continuation Bias também é resultado de uma certa cultura enraizada que não tolera más notícias e suprime todo o tipo de discurso de alerta, de precaução ou de diligência.
Considerando a complexidade do contexto em que vivemos hoje, tendo em conta a quantidade de informação disponível e o pouco tempo para tomar decisões (entre outros fatores críticos), muitas vezes não somos capazes de ter a calma e a clarividência na tomada de decisão ou avaliação do plano ou estratégia. Agimos ou decidimos por reação e não ação própria.
Não é fácil o equilíbrio entre focarmo-nos nas tarefas ou ações a serem executadas e entender os sinais que estão a acontecer à nossa volta. Entender o que está a acontecer à nossa volta dá-nos a hipótese de perceber as ameaças inesperadas e descobrir como agir antes de perdermos o controle.