O que sei como Designer aprendi com o Dr. Phil

Que conselhos pode o Dr. Phil dar a todos os designers, em geral, mas aos freelancers, em particular em particular? Muitos. Sete, precisamente!

Escrito com ❤️ a

4 de Abril, 2016

Confesso, sem vergonha, que gosto do Dr. Phil!

Sim, esse mesmo! O careca, com bigode distinto, que apresenta um programa de consultas de psicologia e terapia em direto na televisão.

Não encontro uma explicação clara para o facto de gostar de assistir ao seu programa quando, fazendo zapping, dou com ele… É que nem sou consumidor de outros programas do género.

Pensando bem, talvez a melhor razão seja por que vejo no Dr. Phil uma certa voz da razão que procura alertar para as situações em que a vida que se leva e as ideias em que se crê prejudicam os próprios ou outras pessoas.

Não pretendo escrever um texto sobre autoajuda, ao estilo dos autoproclamados gurus do bem-estar e autoestima. Na verdade, o Dr. Phil serve apenas de pretexto para lembrar algo que pode ser útil.

Então, que pode o Dr. Phil lembrar aos designers, em geral, e aos freelancers, em particular? Muito!

É muito mais fácil dizer às pessoas o que elas querem ouvir em vez do que elas precisam ouvir.

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Quantos designers já disseram, no final de um projeto: «Não ficou nada como planei, nem me orgulho do resultado, mas o cliente exigiu assim!»

Não pretendo julgar – até porque o mesmo se passou demasiadas vezes comigo – mas esta atitude faz-me pensar se estarei a agir de acordo com os melhores princípios do design como atividade orientada para a solução de um problema.

O meu ponto é este: um cliente contrata um designer para lhe apresentar uma ideia ou solução ou para ser apenas executor da sua ideia, qual máquina industrial que produz algo sem questionar?

É verdade que é fácil cair na tentação de dar o que o cliente quer, sobretudo quando a relação já está irremediavelmente gasta, mas essa é uma atitude autodestrutiva. Clientes assim desgastam, sugam a energia e, pior que tudo, e apropriam-se de todo o valor que o trabalho acrescenta.

Com esse tipo cliente, o melhor é não dar início à relação pois, de contrário, provavelmente sairá o designer prejudicado.

Consciencialização sem ação é inútil

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Tantas vezes temos consciência das nossas falhas, dos nossos medos, das más decisões e até daquilo que não desejamos para a nossa vida e carreira. Mas deixamo-nos seguir por esse caminho, mesmo que indesejado, porque é aquele que de algum modo conhecemos.

O pior que pode acontecer ao designer é cair na inércia. A inércia mata toda a criatividade e curiosidade, dois ingredientes vitais que alimentam o seu trabalho.

Se o designer tem consciência de que a sua carreira não o satisfaz ou que os clientes com quem lida não o valorizam, então é tempo de mudar e passar à ação!

Às vezes, toma a decisão certa, outras vezes é a decisão que se torna certa.

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Esta frase é curiosa, mas aplica-se tão bem ao dia a dia do designer: umas vezes, reflete com afinco sobre todos os aspectos do projeto e todas as decisões que segue são escrutinadas e têm um propósito; outras vezes, fruto do processo de experimentação, age por intuição e sem um propósito definido, mas a verdade é que acerta no resultado! Nem vale a pena tentar racionalizar, pois sabe que aquilo que desenha está certo e que se adequa ao projeto.

Por vezes, tem de dar a si mesmo o que deseja que alguém lhe desse.

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A vida de um criativo é muitas vezes solitária. E são tantas as vezes que lhe pedem alterações e modificações ao trabalho elaborado que duvidam do seu valor… é que são muito menos as vezes que escutam palavras de apreço pela ideia e pela execução!

Quando o designer estiver mesmo contente com o que realizou, não deve ficar à espera das palavas de outros. Que diga a si mesmo: «Epá, que grande trabalho fiz eu!» Ou: «Isto tá muito bom!»

Deve apreciar-se como profissional.

Oitenta por cento das escolhas são baseadas no medo. A maior parte das pessoas não escolhe o que quer, mas escolhe aquilo que lhe parece seguro.

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Esta frase é tão verdadeira para o designer como para os clientes para quem trabalha. Tantas vezes não arrisca mais na elaboração do projeto porque fica com medo que o cliente deteste e o dispense… Ou, então, percebe que os clientes até gostam da ideia, mas ficam com medo do que os outros pensarão dela ou como reagirão.

Como agir?! Isto é, como conseguir mostrar ao cliente que vale a pena arriscar naquela ideia pois, com ela, irá alcançar os objetivos propostos e como é que se treina a si mesmo para não ter medo de arriscar?

Não creio que haja uma resposta certa a esta pergunta, mas talvez um dos segredos para superar o medo é o conhecimento – quanto mais se conhecer algo, melhor se consegue entendê-lo e explicá-lo aos outros.

Na próxima vez que o designer tiver uma ideia e ficar com medo de a apresentar ao cliente, deve questionar-se até que ponto está suficientemente familiarizado com ela para poder apresentá-la com confiança e sem hesitações.

Nós ensinamos às pessoas a forma de nos tratarem.

A relação entre cliente e designer tem de ser de verdadeira parceria e respeito mútuo. Essa relação deve construir-se sobre os fundamentos certos desde o primeiro dia.

Um bom exemplo de gestos que desgastam a relação entre cliente e designer é o momento de pedir feedback do trabalho elaborado, especialmente quando o cliente diz que não gosta nada e fá-lo até num tom de desconfiança do empenho ou competência do designer… É preciso estar preparado para agir de imediato no sentido de colocar a relação no trilho certo.

Por exemplo, explicar como o feedback deve ser dado ou não permitir que o cliente se empenhe a fazer desenhos, esquemas ou a prescrever soluções. Nesses casos, o cliente deve ficar ciente que esse não é o seu papel – afinal está a pagar a quem faça esse trabalho e se ele o quer fazer a relação perde sentido.

Se deseja mais, então exija mais de si mesmo.

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Se quer melhores clientes então tem de ser melhor freelancer. Isso significa que tem de trabalhar melhor e procurar aperfeiçoar-se naquelas áreas em que é mais frágil.

Por trabalhar melhor, quero dizer que não deve aceitar todos os trabalhos que lhe propõem, que deve melhorar as suas capacidades de comunicação, organizar melhor o horário e tarefas, aprender a promover com maior eficácia o seu trabalho e a lista poderia continuar…

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