Ultimamente tenho assistido com interesse ao programa SAS: Who Dares Wins que passa na SIC Radical. Nele acompanhamos cinco ex-soldados das Forças Especiais na recriação do processo de seleção do SAS (Special Air Service – Forças Especiais Britânicas), onde 30 participantes são testados até ao limite máximo da sua resiliência física e – mais importante – psicológica.
O programa impressiona pela dureza física das provas, pela pressão mental exercida e pelo quanto os participantes têm de superar. Como será expectável, aquelas provas não são para qualquer um e no final da temporada já só sobram 3 ou 4 concorrentes.
Uma das particularidades é que não há prémio monetário. Aquelas pessoas não sofrem pelo dinheiro – como por exemplo no “Alone” que tem um prémio de 500 mil dólares! – mas, sim pela possibilidade de serem aceites num dos grupos militares mais restritos do mundo, sendo os participantes civis e sem experiência de guerra.
À medida do desenrolar, o programa ganha maior interesse quando vamos conhecendo as verdadeiras motivações de cada homem e mulher inscrito: superação, redenção, autoconhecimento, entre outras.
No final, depois de tudo o que passam os concorrentes, é feita a avaliação final: serão eles de confiança? Isto é, os instrutores estariam confiantes tendo aquelas pessoas ao seu lado num cenário real de guerra? Confiariam neles numa missão onde vida e morte caminham lado a lado? Esta é a derradeira confirmação e alguns participantes – embora tenham chegado até ao fim – são rejeitados e não terminam o processo de seleção!
Ou seja, tiveram força física para suportar as provas, resiliência mental para aguentar todos os momentos de dor, pressão e medo, o que faria deles pessoas preparadas, mas que ainda assim, não foram capazes de conquistar o requisito mais importante: a confiança dos instrutores!
O conhecido escritor Simon Sinek explica bem este fenómeno num conhecido vídeo: num inquérito a militares americanos sobre quais as características mais importantes que um soldado deveria mostrar, a número um, era a confiança. Isto é, não era ser o mais forte, o mais rápido, o mais inteligente, o mais corajoso, o mais valente, o melhor comunicador, nada disso… era ser a pessoa mais confiável, que num momento de pressão ou perigo, saberiam que poderiam contar – sem réstia de dúvida – com ela. Entre alguém com grandes capacidades e outra pessoa com menos capacidades – mas altamente confiável –, preferiam a segunda.
Serei eu de confiança?
A confiança é um sentimento de segurança ou de firme convicção (fé) que alguém tem relativamente a outra pessoa ou a algo. É uma crença na retidão moral, no caráter e na lealdade de uma outra pessoa ou de que algo não falhará, de que é bem-feito ou forte o suficiente para cumprir sua função.
O que faz uma marca, um produto ou uma pessoa ser confiável? Será por apregoar com convicção e repetidamente os velhos jargões publicitários? No mundo da pós-verdade e das fake news é preciso muito mais do que boa imprensa ou publicidade para se conquistar a confiança das pessoas. Casos como o Diesel Gate, Cambridge Analytica ou o Batterygate da Apple vêm pôr em causa os tão importantes valores apregoados pelas pessoas que constituem estas empresas.
Talvez me tenha desviado um pouco, mas o objectivo era somente mostrar que para alguém (ou algo) ser de confiança, não basta parecer, é preciso trabalhar constantemente para a conquistar. Tudo aquilo que envolve PESSOAS deve ser constantemente trabalhado e aperfeiçoado e para isso é preciso dedicarmo-nos e esforçarmo-nos para conquistarmos/consolidarmos a nossa credibilidade todos os dias através de acções e atitudes que valem muito mais do que palavras. Coisas simples como: se prometemos, cumprimos; se combinamos, não desmarcamos; se nos comprometemos, então fazemos. É uma matemática simples, mas que muitas vezes dá resultado errado porque não soubemos realizar os cálculos com o rigor necessário.
Dificilmente as pessoas confiarão em alguém que não cumpre suas promessas. Credibilidade não é cumprir em parte, mas no todo e constantemente. Portanto, uma pessoa confiável é, por definição, alguém com quem sempre podemos contar, sem margem de dúvida.
É tempo de praticar a confiança e a transparência.
No mundo do trabalho e dos negócios a confiança é um atributo preciosíssimo. Para tal, os líderes devem definir estratégias claras para construir uma cultura de confiança e transparência em toda a empresa/organização. Para tal, têm de comunicar o “porquê” por detrás das grandes decisões. Quando feito de forma eficaz e inclusiva, promove uma melhor compreensão e o espírito de equipa.
Os líderes (e não só!) precisam de agir com integridade, coragem e vulnerabilidade. Quando os erros acontecem, como inevitavelmente acontecem, devem assumir um compromisso sustentado e transparente para os corrigir, garantindo que não se repetem e que se aprendeu a lição.
É preciso consciência de que somos observados todo o tempo e por todos os que nos cercam. Portanto, nunca se pode baixar a guarda. É preciso cuidado na forma como tratamos todas as pessoas independentemente da sua posição na empresa ou organização, pois gera confiança e cria oportunidades. Por isso, precisamos estar comprometidos com o Outro (cliente, colega de trabalho, chefe, parceiro, subordinado) no seu bem-estar e não apenas como um meio para os nossos próprios fins.
Serei eu de confiança? Quero acreditar que sim. Esforço-me por isso nas interações sociais e profissionais. Mas estou convicto que não é uma causa ganha, é antes uma conquista diária árdua.