Tenho uma espécie de mantra que repito sempre na minha cabeça quando estou à procura da resposta a um problema: se a resposta for mais complexa que o problema, estão, muito provavelmente estará errada. No fundo é a aplicação do princípio KISS, de Keep it simple stupid, que defende que qualquer coisa funciona melhor quando é simples de explicar, de entender, de aplicar e de manter.
Simplificar o complexo é uma tarefa árdua e por isso penso que devemos começar por perceber o que não é simplificar.
- Simplificar não é destruir. Por exemplo, quando pensamos na prática agrícola, sobretudo naqueles campos de perder de vista de monocultura, o que ali vemos é a destruição de um ecossistema na busca da simplificação. Se apenas se vai cultivar trigo, para quê tudo o resto? Porém, como defendem outras correntes, essa aparente simplificação através da destruição ou redução acaba por trazer maior complexificação na manutenção desses campos e culturas ao criar outros problemas mais difíceis de resolver, tais como o impacto ambiental pela perda de biodiversidade e a necessidade de utilização de muitos outros meios artificiais para assegurar a produtividade dos solos.
- Simplificar não pode gerar confusão. Se na tentativa de simplificar estou a sonegar informação importante para o contexto ou compreensão, gerando mais dúvidas que certezas, então, esse não foi um processo bem-sucedido.
- Simplificar não deve gerar desconforto. O exemplo é claramente caricatural, mas se numa tentativa de simplificar acabo a dormir no chão e todas as manhãs acordo maldisposto porque não descansei convenientemente, então, significa que não estou, uma vez mais, a compreender corretamente o problema e por isso a resposta acaba equivocada.
Muito do meu trabalho passa por organizar informação. Antes de desenhar seja o que for tenho de organizar muito bem uma matriz do problema nas suas múltiplas causas e ângulos de observação. E quanto mais compreendo as causas do problema, mais articulada e funcional fica a solução. Ainda por estes dias, ao desenvolver um layout para mostrar um conjunto de informação desgarrada, mas ao mesmo tempo relacionada entre si, dediquei boa parte do tempo a encontrar um modelo visual que permitisse acoplar tudo, sem deixar nada de fora, que fosse fácil de ler e compreender, e principalmente, fácil de gerir e manter. Os meus primeiros esboços eram o contrário de todos os objetivos que enumerei. A simplificação que desejava não passava por eliminar informação ou incluir um manual do utilizador! A simplificação que encontrei – a solução – foi fruto da correta compreensão de todos aqueles elementos soltos e as suas ligações.
Simplificar obriga a um maior investimento inicial, mas com um retorno exponencialmente maior. Que o digam muitos dos developers com tenho tido a sorte de trabalhar e aprender. Os mais talentosos e experientes programadores são aqueles capazes de seguir a máxima de Martin Fowler: «Qualquer um pode escrever um código que o computador entenda. Bons programadores escrevem códigos que os humanos entendam.» O investimento deve ser na procura de soluções que são fáceis de aplicar e de manter, que são modulares, seguras, estanques a conflitos e que permitem ser reaproveitadas. Soluções que inovam porque acrescentam valor, eliminam a entropia e que não exigem um esforço desmedido na sua aplicação ou execução, mesmo quando o problema é complexo. Tanto no desenvolvimento informático, como no design, na gestão ou na vida, os princípios da simplificação são os mesmos.
Se pensarmos bem, uma parte considerável dos problemas da humanidade são resolvidos de forma simples. A complexidade é necessária (sem dúvida), mas quando realmente existe um ganho tangível para todos os envolvidos. Por exemplo, no cinema, na literatura ou na música, a complexificação pode ser benéfica e é bem-vinda. Mas nas tarefas do dia-a-dia ou mesmo nas relações pessoais, a simplificação é muito saudável. Neste sentido, julgo que há muito a aprender e a beneficiar com o Minimalismo, uma corrente filosófica que tem ganho tração, especialmente para aqueles que já se cansaram do consumismo desenfreado e agora procuram aquilo que o dinheiro não pode comprar, como a satisfação com a vida e a felicidade. Mas não pretendo desviar-me, talvez noutro momento possa explorar mais sobre este tema.
Em jeito de conclusão, as melhores soluções são as mais simples, mas o caminho da simplicidade é árduo, por isso há que dominar a arte de simplificar, num esforço permanente de aperfeiçoamento.